- Correio Braziliense
Desconheço algo mais maçante do que este início de campanha política. Entre candidatos à Presidência, a falta de originalidade e de poder de convencimento é constrangedora. São desafinados prelúdios para embalar incautos e conduzi-los às esferas das utopias e ilusões.
No passado, até quando me recordo, não era assim. No breve período em que pontificaram UDN e PSD, os eleitores podiam identificar, pelo discurso e postura, situação e oposição. Hoje, com a supremacia dos marqueteiros, todos deixaram de ter personalidade, e se equivalem nas promessas com que tentam nos impingir o Brasil repaginado, moderno, sem problemas e defeitos, que propõem construir em rápidos quatro anos.
De onde extrairão dinheiro para programas e obras, não dizem. Sabem que o Tesouro está seco, sem perspectivas de crescimento da arrecadação, salvo mediante brutal aumento de impostos, assunto que tratam de evitar.
Campanhas tornaram-se autênticos estelionatos eleitorais. No esforço de iludir, princípios éticos deixaram de ser observados. Em contraponto, temas contundentes, como redução da maioridade penal, combate às drogas, reforma trabalhista, restabelecimento de clima de segurança jurídica, democratização da estrutura sindical corrupta, enxugamento da inflada máquina administrativa, contenção de despesas inúteis, são contornados pelo temor de perder apoios.
O PT sepultou antigos compromissos com a moralidade e abriu mão de quaisquer escrúpulos. Para vencer, faria, se necessário, aliança com Asmodeu. A fim de consolidar alianças de conveniência, multiplicou ministérios, loteou estatais e sociedades de economia mista, investiu pesadamente em publicidade, crente na força do "Estado espetáculo", expressão criada por Roger-Gérard Schwarzenberg, para quem a política "se faz agora por encenação". Os resultados estão aí: retorno da inflação, corrosão dos salários, alta da taxa de juros, escândalos investigados pela Polícia Federal, derrocada da Petrobras. André Vargas e Henrique Pizzolatto são típicos representantes do período que atravessamos.
Enquanto abusos de toda ordem se sucediam, em escala "nunca antes vista neste país", a oposição permaneceu em cima do muro, à espera de que o governo fosse abatido por acidente de percurso. Pergunto-me para que mais uma CPI, se os fatos estão diariamente na imprensa?
Não fosse o desassombro de Joaquim Barbosa, o ministro do povo, os mensaleiros permaneceriam impunes, e residentes da Papuda estariam em campanha pela reeleição.
A nação estarrecida cobra posições firmes, duras, claras. Nada de meias palavras, eufemismos, discursos evasivos. Exige que a oposição vá às ruas, como fazia no passado. Ulysses Guimarães, anticandidato em 1970, tendo ao lado Barbosa Lima Sobrinho e outros líderes do MDB, nunca se deixou abater. Atacado por cães da polícia, em Salvador, prosseguiu na batalha pela redemocratização. Foi da coragem do MDB que resultaram as vitórias de 1974, 1978, 1982, até a eleição de Tancredo, em 1985.
A campanha das diretas não se fez com jantares, camisas de seda, gravatas importadas. Longe disso. Em São Paulo, Franco Montoro deu lições de bravura. Reduzida ao extinto MDB, a oposição percorreu o país, organizou reuniões, realizou comícios, mobilizou o povo.
Terão os pré-candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos condições de capitalizar o descontentamento que lavra entre trabalhadores, servidores públicos, militares, pequenos e médios empresários, intelectuais e artistas?
É visível o desprestígio da presidente Dilma. Diz a sabedoria popular que você pode se deter na subida, jamais na descida. Abalados por denúncias de corrupção, que atingem o núcleo duro do partido, líderes petistas ensaiam mal dissimulada campanha pela candidatura de Lula, tido como boia salva-vida. Tímidos desmentidos contribuem para consolidar o movimento em prol do retorno, na expectativa de que seja capaz de resgatar a imagem manchada do partido.
O que pensam Aécio Neves e Eduardo Campos da Copa do Mundo, e perdulárias despesas com dinheiro público em estádios? O que dizem das Olimpíadas, onde serão aplicados recursos que faltam para escolas, hospitais, segurança, saneamento, rodovias, portos, aeroportos e infraestrutura? Não se sabe.
Se acaso o PT voltar a vencer, não será por popularidade da candidata, mas resultado da debilidade da oposição.
Advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST)
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