• Produção de veículos cai 20,5%, e vendas recuam 13,9% em julho, no pior desempenho desde 2006
Lino Rodrigues – O Globo
Pátio cheio
SÃO PAULO - A indústria de veículos do Brasil registrou em julho seu pior resultado de produção e vendas para o mês desde 2006, segundo dados divulgados ontem pela Anfavea, associação que representa o setor. Saíram das montadoras no mês passado 252,6 mil veículos, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, queda de 20,5% sobre julho de 2013. Já nos licenciamentos, que representam as vendas do setor no mercado interno, a redução foi um pouco menor, de 13,9%. Na comparação com junho, porém, houve uma ligeira recuperação, com alta de 17% na produção e de 11,8% nas vendas.
O setor automotivo tem sido afetado pela fraqueza do mercado interno, com a maior rigidez dos bancos na concessão de crédito, prazos de financiamento menores e valores de entrada maiores. Além disso, as exportações tiveram retração de 36,7% em julho na comparação com igual mês do ano anterior, para 34,2 mil veículos, segundo a Anfavea. De janeiro a julho, a indústria automotiva produziu 17,4% a menos ou 1,82 milhão de unidades em relação aos primeiros sete meses do ano passado.
- Houve uma queda muito grande e não esperada na confiança do consumidores no primeiro semestre. A partir de março houve um clima de pessimismo exagerado, resultando em uma quebra de confiança do nosso consumidor, aliado a uma seletividade do crédito no bancos - disse o presidente da Anfavea, Luiz Moan.
Menos 7 mil vagas no setor
Segundo Moan, a recuperação das vendas (com alta de 11,8%) e da produção (avanço de 17,4%) em julho na comparação com junho faz parte das expectativas de um segundo semestre melhor do que o primeiro para o setor. Além de crédito mais farto - o BC aumentou a liquidez do mercado financeiro em cerca de R$ 45 bilhões - e do fim do efeito Copa, o segundo semestre terá oito dias úteis a mais que o primeiro, ou seja, mais tempo para as concessionárias venderem. Ele prevê melhores resultados nas exportações para a Argentina, que concentra 75% das vendas externas do setor, apesar da crise econômica que atinge o país vizinho.
- É o primeiro passo (a recuperação em julho na comparação com junho) de um caminho de vendas e produção maiores no segundo semestre - disse Moan, salientando que a entidade está trabalhando com o governo para a expansão de acordos de comércio com outros países (da América do Sul, Europa e África) para diminuir a dependência da Argentina e aumentar as exportações.
A desconfiança em relação à retomada nas vendas no segundo semestre ainda tem influenciado a decisão de várias montadoras de ajustar a produção à demanda mais fraca por meio de concessão de férias coletivas, suspensão de contratos de trabalho ( Layoff ) e redução de jornadas de trabalho nas fábricas. Esse quadro levou o governo a adiar para o fim do ano o aumento do IPI que deveria ter ocorrido no fim de junho. O nível de emprego nas montadoras fechou julho em 150.295 postos ocupados, uma redução de 7 mil vagas em relação a dezembro de 2013. Para Moan, a redução de 4,2% no nível de emprego nos primeiros sete meses deste ano se deve exclusivamente à adoção de Programas de Demissão Voluntária (PDV), que atingem mais os trabalhadores aposentados.
A produção de automóveis e comerciais leves caiu 19,9% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado, mas teve alta de 15,7% na comparação com junho. Já o volume produzido de caminhões recuou 30,5%, enquanto ônibus tiveram queda de 22,9% na comparação anual.
Em junho, a Anfavea reduziu suas projeções para o setor neste ano, prevendo queda de 10% na produção, recuo de 5,4% nas vendas no mercado interno e redução de 29% nas exportações. Na ocasião, os estoques de veículos à espera de comprador eram suficiente para 45 dias de vendas.
Analista vê melhora apenas no fim de 2015
Com a produção caindo mais do que as vendas, o estoque de veículos nas fábricas e concessionárias recuou de 395,5 mil para 382,6 mil unidades de junho para julho, ficando em 39 dias. Mesmo considerando positivas as medidas recentes do BC para estimular o crédito, a entidade manteve as estimativas de queda de produção e vendas para 2014.
- A economia brasileira precisava dessa liquidez. Mas os agentes bancários precisam fazer uma análise detalhada para saber onde aplicar essa liquidez adicional - disse Moan, lembrando que a inadimplência, que já chegou a 7,6% no passado, hoje está abaixo de 3%, o que deixa as "operações mais saudáveis".
Para analistas, as previsões da Anfavea são otimistas e não refletem o cenário de incerteza que as eleições devem trazer para o mercado. Luiz Carlos Augusto, consultor da DDG Automotiva lembra que, além de um esgotamento nas vendas de veículos, com a antecipação de aquisições nos anos de 2009 e 2011, períodos eleitorais costumam mexer com a intenção de compra dos consumidores.
- As vendas devem cair entre 8% e 10%, mesmo com essa melhora do crédito. Essa situação de queda de vendas só vai começar a melhorar a partir do último trimestre de 2015 - disse Augusto.
A situação da Argentina, segundo ele, também vai pesar negativamente para o Brasil, resultando em vendas menores de carros para o país vizinho.
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