• Na reta final, ex-presidentes e figuras de peso do PSDB e PT adotam estratégia de críticas mútuas e controversas
Angela Lacerda e Tiago Rogero - O Estado de S. Paulo
Enquanto a militância tucana e a petista se atacam em várias partes do País, dois pesos pesados dos dois partidos também continuam o embate, nesta reta final do 2.º turno. Ontem, no Recife, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse lamentar que o também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha se transformado em "arauto da tragédia''. Em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, Lula voltou a criticar o tucano, dizendo que "quando um homem estudado como o FHC, grande sociólogo, fala que quem vota na Dilma é ignorante, é porque ele não conhece mais o Brasil. Porque no Brasil do tempo dele, as pessoas passavam fome''.
Fernando Henrique fez a declaração em entrevista a um programa da Rádio Jornal do Recife. Ele também criticou a tática petista de "demonizar o passado'' por meio da tentativa de desconstrução das gestões tucanas, "denegrindo a história''. "Não precisava jogar pedra no passado, mas se tornou uma obsessão do presidente Lula.''
O ex-presidente afirmou conhecer Lula desde que era líder sindical. "Ia à casa dele, Lula e Marisa (mulher do petista) passaram pela minha casa de praia. Fico triste de ver como uma pessoa se transformou tanto para ser arauto da tragédia.''
Ele lembrou passagem que diz ter ocorrido pouco depois que deixou o Palácio do Planalto. "Um detalhe'', contou. "Quando deixei o governo, fui para a Europa e o presidente Lula passou pela Europa. (Ele) me telefonou e disse que um companheiro queria falar e o ministro Palocci (Antonio Palocci, da Fazenda) agradeceu por tudo que meu governo fez. Este era o clima.''
FHC afirmou que uma das duas vezes em que recorda ter recorrido a empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) foi para garantir que o presidente Lula tivesse condição de governar ao assumir o seu primeiro mandato, em 2003. "Pedi empréstimo com anuência expressa do Lula.''
Em São Gonçalo, Lula, em discurso após desfile em carro aberto, reiterou as críticas a FHC, usando como mote entrevista em que o tucano classificou como "menos informados'' os que votam no PT. "Ele pensa que o Brasil é o do tempo dele, quando as pessoas passavam fome e ficavam desempregadas.''
O petista disse ter mandado o FMI "para a casa do chapéu". Também criticou a imprensa em geral, que "não mostra coisa boa, só desgraça", e disparou contra a revista britânica The Economist, que em editorial na semana passada recomendou voto em Aécio Neves - a quem Lula mais uma vez ontem chamou de "filhinho de papai''.
Em outro momento do discurso, Lula - ao afirmar que Aécio foi "agressivo" com Dilma ao chamá-la de leviana e mentirosa no debate do SBT - disse nunca ter sido tão agressivo nas campanhas que disputou.
"Eu fui candidato cinco vezes. Vocês nunca me viram na TV ser agressivo com alguém. Porque eu acho que se um homem tiver de chamar o outro de mentiroso na cara, é pra sair logo 'no pau'." E provocou: "Será que se o Aécio estivesse debatendo com um homem, ele seria tão brabo quanto ele é com a Dilma?".
Após transparecer visível cansaço na atividade da manhã (por vezes, a voz falhou no discurso de 20 minutos), realizada sob forte calor e o sol de meio-dia, Lula cancelou caminhada pelo calçadão de Campo Grande, zona oeste do Rio. Segundo sua assessoria, ele precisou antecipar a volta a São Paulo para gravação de programa eleitoral.
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