- O Estado de S. Paulo
Passada a eleição, todo mundo começa a pensar no ano que vem e, especialmente, qual será a nova equipe econômica e sua proposta de trabalho.
Embora isso seja normal, é necessário ter presente que 2014 ainda não terminou. E tudo indica que vai acabar pior do que se imaginava, em muitas frentes.
Em primeiro lugar, consideremos o crescimento econômico, medido pelo PIB. Com os dados disponíveis até agora, está ficando claro que o segundo semestre não será muito melhor do que o primeiro, ao contrário do que se imaginava. Nosso economista-chefe, Sergio Vale, está projetando que o PIB do terceiro trimestre será, mais uma vez, negativo, evoluindo menos 0,1% em relação ao anterior. Com isso, o resultado do ano será de, no máximo, um crescimento de 0,1% do PIB.
O pior da evolução recente da economia brasileira é que o investimento segue caindo forte: projetamos uma contração de quase 10% na formação bruta de capital no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. Nos primeiros nove meses do ano, a importação de equipamentos caiu quase 7,0%, enquanto a produção doméstica dos mesmos caiu 8,2%. Outro indicador do enfraquecimento da economia no período recente vem do comércio exterior. A média diária das exportações, da quinta semana de outubro é 20% menor que a média observada em julho, um movimento sem precedentes. As importações, por outro lado, caíram 8,0% no mesmo período.
Ademais, a seca atual continuará a atrapalhar a atividade, seja na produção agrícola, seja em paradas temporárias de unidades industriais, como foi o caso recente da Rhodia, em Paulínia, de frigoríficos no interior do Estado de São Paulo, bem como de várias outras indústrias menores em muitos lugares do Sudeste. No caso da energia elétrica, a perda de qualidade no fornecimento também vem afetando a produtividade de muitas companhias, pois como mencionou o relatório recente do Instituto Acende Brasil, tem sido cada vez mais comum a necessidade de desligamento de equipamentos, como consequência de flutuações na tensão da energia. Além disso, as autoridades elétricas se preparam para a possibilidade de cortes seletivos de energia, no início do ano, caso as chuvas sigam fracas como até agora. Finalmente, a retomada da elevação da taxa Selic, decidida na última reunião do Copom é mais um instrumento a levar a postergação de projetos de investimentos e a restrições no crédito.
Balanços. Um fator adicional que leva bancos e empresas a uma atitude mais conservadora, é a nítida piora na situação dos balanços, fenômeno que já mencionei neste espaço mais de uma vez. São muitas as companhias nas quais a elevação de custos e a redução de vendas e de margens estão levando a encolhimento patrimonial e redução na capacidade de operação.
O mês de setembro revelou uma piora muito significativa na situação fiscal. Na verdade, não é que a situação ficou pior, é que a redução do adiamento de pagamentos por parte do Tesouro (conhecido como "pedaladas") revelou uma situação fiscal bem pior do que se imaginava. O déficit nominal do setor público no mês foi de quase 5,0% do PIB, uma piora muito significativa em relação aos 3,0% de pouco tempo atrás. O resultado primário vai ser muito pequeno neste ano. Na verdade, se corrigíssemos todos os truques contábeis, o resultado verdadeiro seria provavelmente negativo. Nessas condições, a dívida pública bruta e líquida será maior neste ano, o que de fato obriga a um maior esforço fiscal a partir de 2015 sob pena de novas elevações no endividamento.
Mesmo com o IPCA de 0,42% em outubro, um pouco menor do que o esperado pelos analistas, a inflação do ano corrente ficará no topo da meta, pouco mais ou menos. A elevação recente dos preços da gasolina e diesel devem colocar mais 0,1% no índice, da mesma forma que pressões sazonais de alimentos ainda ocorrerão até o Natal, especialmente na área de carnes. Além disso, as tarifas de energia continuarão sendo reajustadas em níveis muito elevados. O resultado é que a inflação brasileira está firmemente ancorada em 6,5% ao ano, e será pressionada ademais pela desvalorização do real, que se afigura como certa, inclusive, pela recuperação da economia americana.
Ajuste. O PIB muito baixo, a dívida pública se elevando e a piora da inflação, abrem a possibilidade de uma revisão na classificação de risco do País em algum momento do próximo ano. Daí, porque, a necessidade premente de elaboração de um programa de ajuste na área fiscal e da continuidade de elevação das taxas de juros que visem a melhoria nas condições econômicas, precedente necessário para a recuperação dos investimentos e do crescimento em 2016.
O ajuste necessário enfrenta, entretanto, uma forte dificuldade inicial, que é a pouca credibilidade da política econômica atual, reforçada pelo fato que o discurso de campanha foi incisivo ao dizer que não haveria nenhum tipo de ajuste recessivo. Dizer uma coisa na campanha e fazer o inverso na política terá um custo enorme. Daí, porque, existe uma grande ansiedade para se saber qual será a equipe econômica.
Em conclusão, vamos entrar em 2015 com a economia parada e com o processo de investimento ainda em contração. Este continuará sendo negativamente afetado pela paralisia existente na Petrobrás e no setor elétrico. A política macroeconômica será restritiva, ainda que minimamente, o que fará com que os empresários só pensem em novos projetos após verificar as chances de sucesso da nova equipe. Isso significa um crescimento pífio em 2015 (que estimamos ser de 0,5% do PIB) e que a chance de crescer em 2016 vai depender de o investimento voltar a ser positivo na segunda metade do próximo ano. O que me parece difícil, é que para dar certo, tudo tem de dar certo. Infelizmente, a vida não é assim. É essa a dúvida sobre a qual os mercados estão refletindo.
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