Obcecado pela ideia de se perpetuar no poder, não importa a que preço, o PT enfrenta cada disputa que o jogo democrático do voto lhe impõe com a aplicação de dois princípios - digamos assim - com os quais se tem dado bem: primeiro, na disputa política não existe adversário, mas inimigo, que como tal não deve ser vencido, mas destruído; segundo, o voto, precisa ser conquistado a qualquer custo. O mais notável exemplo da aplicação dessas regras de conduta foi a campanha da candidata Dilma Rousseff, na qual os inimigos foram violentamente atacados sob a alegação de que, se eleitos, fariam exatamente tudo o que a presidente reeleita está fazendo.
Reproduz-se agora o receituário, em outra disputa de votos, desta vez para a presidência da Câmara dos Deputados. Para os brasileiros, estaria bem - na falta de melhor - que vencesse o candidato menos ruim. Mas para o governo coloca-se uma questão vital: manter sob o controle do Palácio do Planalto uma das casas do Parlamento - um poder da República que a Constituição diz ser independente e autônomo, a quem cabe a responsabilidade de legislar e de fiscalizar os atos do Poder Executivo.
Na vida real do presidencialismo de coalizão que Lula&Cia. transformaram numa vulgar ação entre amigos, o Congresso Nacional - com poucas e honrosas exceções - tem se conformado em pagar com uma humilhante submissão às benesses distribuídas aos "aliados" do poder central. Esse hábito vinha sendo cultivado com muito engenho e alguma arte. Mas como o governo do PT não é mais comandado por uma raposa peluda da política, mas por uma praticante convicta do centralismo democrático, a química com os representantes do povo desandou.
O resultado é a candidatura favorita à presidência da Câmara de um aliado rebelde, o peemedebista Eduardo Cunha (RJ), que tem explorado o discurso da autonomia e independência da Casa, mas cujo trunfo mais poderoso é a insatisfação de seus pares com a incompetência do governo petista na administração do toma lá dá cá.
Diante da ameaça representada pelo deputado fluminense, o comando político do governo desembarcou na Câmara dos Deputados com a caixa de ferramentas aberta. E, pelo que já se pode notar, os petistas estão, como de hábito, dispostos a fazer o que for preciso para destruir o inimigo. Eduardo Cunha denunciou na terça-feira passada uma "armação" de que estaria sendo vítima. Distribuiu para os jornalistas cópias da gravação de um diálogo entre dois homens não identificados que o comprometeria com o escândalo da Petrobrás: "É mais uma tentativa de farsa e montagem para constranger minha candidatura", declarou o deputado, fazendo referência ao fato de que, dias antes, seu nome fora envolvido, junto com o do senador eleito e ex-governador mineiro Antonio Anastasia (PSDB), numa denúncia que acabou se revelando improcedente sobre a participação de ambos no esquema de propinas da Petrobrás. E acrescentou Cunha: "Quem estaria orquestrando ou montando faria parte da cúpula da PF, não quer dizer que seria o diretor".
Quem testemunhou durante a campanha presidencial a sequência de destruições de reputações pela militância petista certamente não duvidará de que tudo pode acontecer até o dia da eleição dos próximos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. No Senado não deverá haver disputa, com a recondução de Renan Calheiros à presidência. Mas o governo assumiu claramente sua intenção de beneficiar seu candidato na Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), ao anunciar que as nomeações para o segundo escalão e para os bancos oficiais estão suspensas até que se defina quem comandará as duas Casas do Congresso.
O governo colocou em campo sua tropa de choque a serviço do adversário petista de Eduardo Cunha. Na quarta-feira, o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, foi acusado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) de estar prometendo "vantagem indevida a parlamentares para votarem em favor da candidatura do deputado Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara dos Deputados". O PT no governo tem os recursos e conhece como ninguém as "técnicas de persuasão".
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