• Cúpula peemedebista reage à ação do Planalto para eleger o petista Chinaglia presidente da Câmara e divulga hoje documento de adesão à candidatura do líder da bancada na Casa, que faz ataque indireto ao PT; sigla aliada defende também reeleição de Renan
Ricardo Brito, Ricardo Della Coletta e João Domingos - O Estado de S. Paulo
BRASILIA - Numa reação às manobras do Palácio do Planalto para reduzir o poder do partido na Esplanada, o PMDB decidiu divulgar nesta terça-feira, 13, documento de apoio às candidaturas do deputado Eduardo Cunha (RJ) e do senador Renan Calheiros (AL) às presidências da Câmara e do Senado.
A ideia da divulgação do documento de apoio a Cunha e Renan é inibir a ação do Planalto pela candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Conforme revelou o Estado no domingo, ministros próximos à presidente Dilma Rousseff têm procurado parlamentares para pedir voto no petista. Até as indicações de segundo escalão foram paralisadas, aguardando o resultado da eleição.
Tudo dentro de uma nova estratégia política: diminuir a dependência do PMDB e fortalecer aliados como o PSD de Gilberto Kassab, ministro das Cidades; e o PROS de Cid Gomes, ministro da Educação.
O partido quer mostrar ao governo que é preciso separar apoio partidário do uso da máquina pública em favor de alguém. Desse modo, os ministros petistas poderiam até trabalhar por Chinaglia, mas jamais usar a máquina que têm na mão, como nomeação de pessoas para cargos no governo ou promessa de liberação de verbas em troca de votos na Câmara.
Pacto. O contra-ataque do PMDB não foi feito de surpresa. Anteontem à noite, Temer procurou os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Ricardo Berzoini (Comunicações). Disse que estava preocupado com as ações do PT contra seu partido e ofereceu uma espécie de pacto de convivência, em que o apoio se limitaria a manifestações individuais, o que, na opinião do vice, é normal em qualquer disputa. Temer disse ainda que hoje vai comandar pessoalmente a cerimônia de apoio a Cunha e Renan.
Nesta tarde, ele chamou à Vice-Presidência os principais nomes do PMDB. Entre os presentes estavam o próprio Cunha, Renan Calheiros, o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB-AM). Na reunião, foram acertados os detalhes da divulgação do documento de apoio à candidatura dos dois.
Temer também busca no movimento diminuir a insatisfação dos correligionários com a reforma ministerial e frear o que poderia vir a se tornar um questionamento do seu papel na legenda.
A manifestação do PMDB ocorre em um momento de crescente tensão da campanha para a presidência da Câmara.
Tido como desafeto do Planalto, Cunha tem se queixado de que as notícias veiculadas na semana passada, segundo as quais ele foi beneficiário de repasses do esquema de corrupção na Petrobrás comandado pelo doleiro Alberto Youssef, têm o objetivo político de prejudicar sua candidatura.
Na segunda, o advogado do doleiro, Antonio Figueiredo Basto, disse que seu cliente “não sabe nada a respeito de entregar dinheiro” para Cunha. Ontem, a defesa de Youssef protocolou petição na Justiça Federal no Paraná em que afirma ainda que “nunca teve qualquer relação” com o deputado.
No entanto, na delação premiada firmada no âmbito da Operação Lava Jato, Youssef citou o peemedebista como um dos “beneficiário de propinas” do esquema. Os pagamentos eram feitos via empresário Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB (mais informações abaixo).
‘Alopragem’. Nesta terça, Cunha afirmou que a denúncia de envolvimento com o esquema de Youssef é uma “alopragem”. Foi uma menção ao que ficou conhecido como “escândalo dos aloprados” ocorrido em 2006, quando petistas foram presos em São Paulo ao tentar comprar um dossiê contra o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. O candidato da sigla na época era Mercadante, atual chefe da Casa Civil.
“É uma alopragem que foi desmoralizada. São denúncias vazias para desmoralizar minha candidatura”, afirmou o deputado peemedebista. “Eu só encontro (entre os deputados federais) solidariedade e revolta. Ganhei muitos votos com essa denúncia vazia.”
Até o momento, Cunha mantém o favoritismo. Teria entre 260 e 270 votos. Chinaglia ficaria entre 170 e 180 votos e o candidato da oposição, Julio Delgado (PSB), entre 80 e 100 votos.
O cenário atual faz com que Cunha se mantenha confiante na vitória no dia 1.º de fevereiro, data da eleição na Câmara: “Eu não acredito que haja um 2.º turno”, afirmou. Ele também minimizou possíveis defecções, já que o voto para a presidência da Câmara é secreto. “Só posso ser beneficiado por traição. Se alguém vai ser traído será o governo.”
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