- Folha de S. Paulo
Após 33 anos no PT, a senadora Marta Suplicy rompeu com o partido. Pelo menos parte de sua motivação é eleitoral, já que ela quer disputar a Prefeitura de São Paulo no ano que vem e a legenda já tem um candidato cativo, que é o atual prefeito, Fernando Haddad.
O complicador para Marta é que o STF decidiu que mandatos legislativos, salvo raras exceções, pertencem ao partido, e não ao parlamentar. Assim, existe a possibilidade de que o PT reclame para si a cadeira senatorial de Marta. Para diminuir esse risco, ela alega que foi o PT, e não ela, que mudou de ideário, uma das hipóteses de rompimento que o Supremo julga legítimas. Marta tem razão?
De um modo geral, penso que sim, mas a questão é mais complicada do que parece. Decerto a agremiação mudou. Se tomarmos como ponto de partida os anos 80, quando o PT surgiu e era tão intransigente na defesa de princípios e métodos, podemos até afirmar que a legenda se tornou irreconhecível. Ali, nos primórdios, o partido nem sequer negociava com outras agremiações e cultuava a moralidade pública com fervor quase religioso. Hoje... bem, não creio que seja preciso dizer nada.
A dificuldade aqui é que Marta não foi eleita senadora nos anos 80, mas em 2010, já no pós-mensalão. Agravante adicional, não foi só o PT que mudou, mas também a própria Marta, tanto em relação a seu eu dos anos 80, como em relação ao de 2010.
Poderíamos resolver a questão descobrindo quem mudou mais, se foi a senadora ou o partido. Neste caso, porém, perderíamos o sabor metafísico da história. É a mudança ou a permanência que rege o mundo? Heráclito apostava na primeira. Dizia que tudo é fluxo ("pánta rheî") e é impossível tomar banho no mesmo rio duas vezes. Já Parmênides, um partidário da permanência, dizia que mudança e movimento é que são impossíveis. Sou mais Heráclito, ainda que lamentando que o PT tenha levado o "pánta rheî" longe demais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário