• Renan diz que presidente não pode defender medidas contra trabalhador
Eliane Oliveira, Fernanda Krakovics, Maria Lima e Geralda Doca – O Globo
BRASÍLIA - Dirigentes do PT estão irritados e consideraram "um absurdo" a decisão da presidente Dilma Rousseff de não fazer pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV no Dia do Trabalho e afirmam que ela se "acovardou" diante da ameaça de panelaços. A cúpula do PT queria que Dilma aproveitasse a oportunidade para fazer um discurso contra o projeto que regulamenta a terceirização. Lideranças do partido reclamam que o governo está deixando o presidente do Senado faturar como defensor dos trabalhadores.
O argumento utilizado pelo Palácio do Planalto para tentar convencer o PT da suspensão do pronunciamento é que Dilma estaria recuperando sua popularidade, de acordo com pesquisas encomendadas pelo governo, e que não seria o momento de colocar isso em risco. Petistas rebatem afirmando que pesquisas devem servir apenas como termômetro, e não como definidor de ações. Para eles, o governo precisa fazer o embate político tanto para se aproximar de suas bases, no caso os sindicatos, como para recuperar eleitores que votaram em Dilma mas se decepcionaram com o governo já no início deste segundo mandato.
Críticas a terceirização
Após se reunir ontem com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) voltou a criticar a presidente, afirmando que ela continuará sendo impedida de discursar no dia 1º de maio se defender medidas que desqualificam o trabalhador e desorganizam a economia. Renan citou como exemplo o que chamou de precarização das relações de trabalho, com a terceirização das atividades-fim, e criticou o ajuste fiscal do governo. Na segunda-feira, a presidente decidiu que não fará pronunciamento de rádio e TV na próxima sexta-feira. Depois que foi alvo de panelaço em pronunciamento no Dia da Mulher, Dilma optou por falar apenas nas redes sociais no feriado.
- O que não tem sentido, absolutamente nenhum sentido, é no momento em que o Estado aumenta impostos e a taxa de juros, as empresas e o sistema financeiro acharem que vão resolver o problema da produtividade transferindo para o trabalhador. Se isso acontecer, a presidente vai continuar não podendo falar no dia 1º de maio - afirmou Renan.
Ao longo do dia, o presidente do Senado reiterou as críticas em várias oportunidades, inclusive no plenário do Senado. Para Renan, é importante regulamentar a terceirização e criar segurança jurídica, mas sem terceirizar a atividade-fim, como foi aprovado na semana passada, na Câmara dos Deputados - o que acabou gerando um bate-boca entre ele e o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
- A terceirização da atividade-fim precisa ter um limite. Não pode liberar geral. Isso precariza as relações de trabalho e significa um novo modelo de desenvolvimento. O Brasil não pode pagar esse preço e a presidente não pode fazer isso. Precisamos dar uma resposta ao povo brasileiro - afirmou Renan, destacando que, em sua opinião, o ajuste fiscal deve ser feito no Estado, e não às custas do trabalhador.
Renan defende que seja colocado um limite de 20% para a terceirização das atividades principais de uma empresa, as chamadas atividades-fim. Seria uma forma de tentar chegar a um acordo com a Câmara, não engavetando o projeto nem desfigurando por completo a proposta aprovada pelos deputados.
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