Mais um recorde negativo foi batido pela presidente Dilma Rousseff, quando seu governo foi classificado como ruim ou péssimo por 68% dos entrevistados na pesquisa Ibope, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Foi a pior avaliação registrada na série iniciada há 29 anos. O levantamento foi realizado entre 18 e 21 de junho. A má opinião sobre o governo pode parecer natural e muito compreensível, num cenário de inflação próxima de 9%, desemprego de 8%, juros muito altos, inadimplência e perspectiva de piora em quase todos os setores de atividade.
Mas há pelo menos um ponto muito discutível – de fato, um equívoco – nos pontos de vista coletados pelos pesquisadores. Segundo 82% dos entrevistados, o segundo mandato da presidente está sendo pior que o primeiro. Em março, na sondagem anterior, 76% dos consultados haviam dado essa resposta. Mas o segundo mandato mal começou e nenhum dos grandes problemas da economia, hoje evidentes para todos, foi gerado nos últimos seis meses.
Recessão, desemprego, inflação disparada, juros muito acima dos padrões internacionais e contas públicas arrebentadas – tudo isso é consequência dos erros e desmandos cometidos no primeiro governo da presidente Dilma Rousseff. Alguns desses problemas foram de fato gestados nos quatro anos finais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando as condições fiscais começaram a deteriorar-se, a promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais se tornou rotineira e a distribuição de benefícios a setores e a grupos selecionados foi impingida como política industrial.
Também no governo Lula começou a devastação da Petrobrás, forçada a realizar investimentos errados e custosos, loteada politicamente, sujeita a um controle absurdo de preços e exposta à corrupção. Forçada a reduzir suas ambições e a encolher, a Petrobrás anunciou nesta semana seu plano de negócios para 2015-2019, com redução de 37% nos investimentos programados. A degradação da maior empresa brasileira é obra dos presidentes Lula e Dilma, o que já era evidente, para quem se dispunha a enxergar, antes da eleição presidencial de outubro. Não é obra do atual mandato.
A devastação das contas públicas acelerou-se nos últimos quatro anos, com a persistente piora dos balanços fiscais, a maquiagem cada vez mais audaciosa dos números e a multiplicação das pedaladas. Há mais de um ano a contabilidade criativa adotada pelo ex-secretário do Tesouro Arno Augustin, com a aprovação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e da presidente Dilma Rousseff, já era conhecida e comentada no mercado financeiro internacional. Não viu quem não quis ou quem nunca se preocupou em informar-se da condição real da economia de seu país.
A pesquisa Ibope mostra muita insatisfação com a política de juros, como se essa política tivesse nascido por decisão arbitrária ou capricho de alguns burocratas do Banco Central. Mas os juros básicos chegaram a 13,75% – e ainda poderão subir – por causa de uma inflação desatada e muito acima dos padrões internacionais.
Essa inflação resultou da gastança, do manejo irresponsável das contas públicas e de um evidente populismo nas políticas de crédito e de reajuste do salário mínimo. Muitos brasileiros podem ter acreditado na capacidade do governo de manter a distribuição de benefícios e de favores por tempo indeterminado, mesmo sem cuidar do aumento da capacidade produtiva. Empresários também se beneficiaram da distribuição de favores e de um protecionismo anacrônico, sem cuidar de investir e de se preparar para competir, produzir mais e criar mais oportunidades de trabalho.
Mas quem se dispunha a investir também deixou de fazê-lo por falta de confiança na política econômica. A fabricação e a importação de máquinas caíram nos últimos anos, em mais uma comprovação do desastre armado pelos erros e desmandos do governo.
Nenhum dos males econômicos vividos hoje no País é obra do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Todos são desdobramentos de irresponsabilidades cometidas durante anos e muitas vezes aplaudidas por quem hoje se queixa.
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