- O Estado de S. Paulo
As crises, e entre elas principalmente as da economia, espalham aflição e a aflição produz perguntas. A questão recorrente da hora é: até quando vai o sufoco?
A inflação, por exemplo, ainda está em escalada, mas já dá para dizer que está perto o ponto em que começará a dobrar o pico da montanha. Os efeitos do tarifaço, por exemplo, já estão se aplacando. Ainda há alguma recaída (digamos ressubida) para acontecer, talvez a partir de novo reajuste dos preços dos combustíveis, mas já ninguém espera para 2016 as estocadas ocorridas neste ano. Ao contrário, os debates se concentram sobre se a meta será ou não alcançada ao final de 2016, como pretende o Banco Central, ou sobre se a inflação ficará algo acima dos 5,0% quando medida em 12 meses.
Outra área da economia em recuperação são as contas externas. O rombo nas Transações Correntes, que é o conjunto de contas que apontam entradas e saídas de moeda estrangeira (com exceção do fluxo de capitais), já deixou de mostrar um déficit de US$ 83,5 bilhões de dólares em 2015. Está mais para alguma coisa em torno dos US$ 81 bilhões, ou 4,17% do PIB.
E a balança comercial (exportações menos importações), que iniciou o ano com projeções de um superávit magricela de apenas US$ 2,0 bilhões, já está mais para um resultado melhor, provavelmente em torno de US$ 7 bilhões. É verdade que essa melhora tem a ver com um efeito doloroso, que é a forte queda do consumo, que reduziu as importações. Mas um dos objetivos do ajuste da economia foi esse mesmo: o de reequilibrar esse flanco.
O mercado de trabalho está piorando e não deve melhorar tão cedo. A produção encolheu, muitas empresas passaram a operar no vermelho e recorreram às dispensas de pessoal. Mas não foi só isso. O mercado de trabalho estava distorcido.
O aumento da renda obtido com artifícios insustentáveis da política econômica havia provocado debandada do mercado de trabalho. Muita gente se deu ao luxo de se pendurar no salário de algum membro da família para ficar flanando. Achou que não tinha nem de estudar nem de trabalhar e engrossou a turma dos nem-nem. Agora o estrago provocado pela inflação no orçamento doméstico, mais a queda da renda, obrigou esse segmento a descruzar os braços. Com isso, as estatísticas do desemprego aumentaram para além das dispensas de pessoal. Eram de 4,7% em outubro do ano passado e em maio passaram a 6,7%. Melhora desse lado da economia só acontecerá com o aumento da atividade econômica (avanço do PIB).
Não há, por enquanto, nenhuma garantia de recuperação rápida do PIB porque o ajuste ainda tem muito o que andar e o investimento afrouxou. O governo está demorando demais para reativar as concessões de serviços públicos e grande número de empreiteiras encalhou na Operação Lava Jato. A área do petróleo, que poderia alavancar novos projetos, está em franca retração por tudo quanto já se sabe. O caixa da Petrobrás foi dilapidado pela política de preços predatória do primeiro período Dilma; o saneamento financeiro da empresa depois da mega roubalheira apenas começou; em vez de retomar seus projetos, a Petrobrás está desinvestindo; e a derrubada dos preços do petróleo no mercado internacional não ajuda.
É por essas e outras que a retomada da atividade econômica vem sendo sucessivamente adiada, até para 2018, como afirmam os mais pessimistas. Apesar dos pesares, pode acontecer antes disso. É que boa parte do emperramento se dá nos corações e mentes. Hoje predominam a falta de confiança e a percepção de que ficou tudo mais difícil. Esse pessimismo ajuda a piorar as coisas. Lá pelas tantas, pessoas físicas e homens de negócio podem voltar a acreditar em que os problemas estão sendo atacados e em que a roda voltará a girar.
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