- O Estado de S. Paulo
Se alguma novidade há na pesquisa CNT obviamente não é a constatação de que as coisas estão péssimas para o lado do governo, mas sim o sinal de que o poço não tem fundo à vista.
Os 9% de aprovação da presidente Dilma Rousseff da consulta divulgada dias atrás pelo Ibope pareciam o desenho do patamar mais baixo. Como se vê agora pelos 7,7% que consideram a gestão Dilma ótima ou boa, há espaço para cair. Uma relativa surpresa, pois o mais provável era que tivesse havido uma subida na aprovação ou, no máximo, uma estabilidade na desaprovação. Margem de erro? Na atual conjuntura qualquer ponto é letra.
Cresce o apoio popular à tese do impeachment, cai o mito de imbatível do ex-presidente Luiz Inácio da Silva que hoje perderia a eleição para os três tucanos que já concorreram e perderam a Presidência para o PT e aumenta a quantidade de gente que não cai na conversa de que os escândalos atuais são resultado do empenho do governo em combater a corrupção.
A popularidade da atual presidente já é comparada à do ex-presidente José Sarney que, a despeito de ter conduzido com habilidade, competência e serenidade o processo de transição democrática, por obra do desastre econômico deixou o poder pela porta dos fundos. Simbolicamente falando, claro, pois desceu a rampa do Palácio do lado de Fernando Collor. Na campanha, não pôde sequer apoiar um candidato à própria sucessão, pois contaminaria qualquer candidatura. Atacá-lo era sucesso certo.
Tais fatores levam alguns a comparar este agora com aquele momento, Dilma com Sarney. Um exame mais detido da história recente, porém, nos revela – sempre guardadas as proporções relacionadas às circunstâncias – mais e maiores coincidências entre o cenário atual e as cenas finais do regime militar.
Aquele comandado pelo último ditador que saiu do poder literalmente pela porta dos fundos do Palácio do Planalto por se recusar a passar a faixa presidencial para José Sarney, que havia abandonado o PDS, se aliado a Tancredo Neves e vencido com ele a eleição do Colégio Eleitoral de 1985 contra Paulo Maluf. Candidato do regime contra a vontade do representante do regime, general João Figueiredo.
Confuso? Pois é, assim como hoje o partido do governo buscou se afastar assim que detectou a aproximação do fim de um ciclo. Pelo jeito, tal como vivemos agora. A ditadura, primeiro perdeu apoio popular, depois ficou sem maioria no Parlamento. A economia entrava em franco declínio, a inflação "abria" seus índices, os escândalos financeiros começavam a "pipocar" nos poucos espaços abertos à ainda pouca liberdade de imprensa.
Mal comparando, no que tange à ausência de apetite para as lides políticas e na maneira algo brusca e confusa de se expressar, é possível identificar na presidente Dilma Rousseff um quê do "jeito Figueiredo" de ser.
A impaciência do general o fez recusar (em pronunciamento oficial em rede nacional) a delegação dada pelo PDS para coordenar a sucessão, abrindo espaço para a desorganização da "base" e a ação da oposição.
A intolerância da presidente ao longo de seu primeiro mandato aprofundou e agravou as feridas que o PT já havia aberto nas relações com seus aliados. O temperamento a fez objeto de maus sentimentos no Parlamento.
Os escândalos de corrupção, agravamento da situação econômica, o comportamento desonesto durante da campanha eleitoral e depois dela, fizeram o restante do serviço. Com a vantagem, em relação ao período anterior utilizado aqui para comparação, que há uma diferença essencial entre as duas épocas: a vigência plena e inabalável da democracia.
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