- O Estado de S. Paulo
O PSDB não resistiu à pressão de três grandes manifestações nacionais em cinco meses e, finalmente, “destucaniza”, ou seja, desce do muro. Em busca de alguma unidade, passou a admitir explicitamente que o governo Dilma Rousseff não tem jeito. Ou a presidente cai por bem (renúncia) ou cai por mal (impeachment).
Quem deu a voz de comando foi o ex-presidente Fernando Henrique, que deixou de lado sua conhecida prudência, rendeu-se à fragilidade do governo e à voz rouca das ruas e abriu a semana política defendendo a renúncia de Dilma. Não pode ser acusado de golpe, já que apenas inverte posições com o também ex-presidente Lula. Hoje, é FHC quem pede a renúncia de Dilma. Em 1999, era Lula quem pedia a do próprio FHC. Ou ambos são golpistas ou nenhum dos dois é.
Fernando Henrique usou sua página na internet, justamente no dia seguinte às manifestações, para dizer que a renúncia da presidente seria um “gesto de grandeza”, pois o mandato dela “é legal, mas ilegítimo”, carente de respaldo popular. Depois, foi almoçar com os presidenciáveis tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Nenhum dos três precisa dizer uma só palavra desse almoço para que os minimamente informados deduzam o que se passou ali. Dá até para visualizar FHC, com aquele seu jeito professoral, cobrando unidade e enquadrando o afoito Aécio e o dissimulado Alckmin. Mais ou menos assim: ou a gente se une ou vai quebrar a cara.
A reação foi em cadeia. O senador Aloysio Nunes Ferreira defendeu abertamente o impeachment da tribuna do Senado. Aécio Neves explicou que o PSDB busca uma “convergência”, vale dizer, uma convergência interna e também com as manifestações e pesquisas. E Alckmin tardou, mas falhou: ontem, com 24 horas de atraso, classificou a crise de “gravíssima” e avisou: “Se surgir a hipótese de impeachment, o partido vai estudá-la”. Para seu estilo, foi um nítido avanço.
E não faltou alguém nesse almoço do trio FHC-Aécio-Alckmin? Sim, faltou o também presidenciável José Serra e igualmente dá para apostar qual o motivo da ausência: ele já tinha feito a cabeça de Fernando Henrique, que fechou contra a convocação de eleições e a favor das opções renúncia ou solução Michel Temer. A aposta é com base num dado da realidade: bastou o almoço para Aécio e os líderes tucanos Carlos Sampaio e Cássio Cunha Lima recuarem da tese de novas eleições.
Isso seria possível se o TSE rejeitasse as contas da chapa Dilma-Temer, mas haveria vários efeitos colaterais. Com o quórum muito pequeno do TSE, o coro de golpe seria ensurdecedor. E quem presidiria o País por três ou quatro meses seria... o deputado Eduardo Cunha! Se depender dos tucanos e dos próprios aecistas, não se fala mais nisso, só em renúncia ou impeachment.
Pelo sim, pelo não, Serra admitiu segunda à noite, no Roda Viva, da TV Cultura, que “vai ser muito difícil” Dilma concluir o mandato. Ele escondeu o jogo sobre que desfecho prefere, se via TSE ou via TCU, mas deu pistas de que não se negará a compor com o PMDB caso a solução seja pelo TCU e o sucessor seja o vice Michel Temer. Curioso, aliás, que Serra tenha se esquivado de criticar até o neogovernista Renan Calheiros...
Tem-se, portanto, que o mundo governista, empresarial e financeiro se move para um lado – o de manter Dilma a qualquer custo para evitar um eventual mal maior – e a oposição se move em sentido contrário, com PSDB, DEM, PPS e Solidariedade entrando em sintonia e a favor das pesquisas e das ruas que pedem o afastamento de Dilma.
O que muda no estado de coisas e na situação de Dilma com essa nova postura do PSDB? Difícil saber, até porque ninguém sabe mais nada. Mas a unificação do discurso tucano a favor da renúncia e admitindo o impeachment não é nada bom para Dilma e pode ser muito bom para o futuro do próprio PSDB. Além de atiçar a cobiça do PMDB de Temer.
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