- O Globo
O governo está tentando de novo fazer mágica, usando os bancos públicos para reativar a economia. Anunciou ontem linhas de crédito da Caixa Econômica para setores que estão com queda nas vendas. Foi exatamente por executar essas manobras mirabolantes que a crise se aprofundou e o país está agora numa recessão comparável às duas piores que tivemos na história recente.
Aeconomia brasileira tem uma resiliência que a protege de períodos prolongados de recessão. Desta vez, porém, o país está atravessando dois anos seguidos de queda. É o que apareceu no Focus do Banco Central eé o que se ouve nas conversas com economistas. O que está se projetando só é comparável a dois períodos mais difíceis da economia brasileira: as recessões de Delfim e Collor.
Ao longo das crises que começaram nos anos 1980, o Brasil foi perdendo capacidade de crescer durante muito tempo em ritmo forte. Mesmo após a estabilização, a sina de prosperidade interrompida tem nos perseguido. No primeiro governo Dilma, o crescimento médio ficou muito baixo, 2,1%, menor do que o do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, que começou fraco em 1999 ( 0,5%), após a desvalorização brusca do real, teve um forte crescimento em 2000 ( 4,4%), e em 2001 desacelerou com o apagão ( 1,3%), para voltar a acelerar em 2002 ( 3,1%).
O segundo mandato de Dilma será pior do que o primeiro. Economistas acham que, ao fim de quatro anos, o país terá tido em média crescimento zero: dois anos recessivos e dois anos de crescimento muito baixo, que significará não sair do lugar.
A diferença desta vez é que o período de queda do PIB será mais longo. A recessão dos anos 1980 se seguiu à crise da dívida dos países latino- americanos. O Brasil teve uma contração de 4,3% em 1981, fez um esforço de recuperação em 1982, fechando em 0,8% positivo, para nova queda de 2,9%. Os dois resultados negativos foram em anos em que houve maxidesvalorizações do cruzeiro, moeda brasileira de então.
No Plano Collor, com o sequestro das aplicações financeiras, o país teve novo tombo de 4,3% em 1990. Houve ligeira recuperação no ano seguinte, de 1%, mas voltou a ficar negativo em 1992, em - 0,5%.
Esses dois períodos foram muito difíceis para a economia brasileira, com empobrecimento e desemprego. Deixaram cicatrizes que são reavivadas quando o país entra de novo em um período de recessão longa. Exceto estes momentos de queda da economia, de 1981 e de 1990, o país teve apenas um outro número negativo, mas muito pequeno, de - 0,2%, em 2009, no auge da crise internacional. No governo FHC não chegou a haver recessão, apenas dois anos de baixo crescimento: 0,4% em 1998 e 0,5% em 1999.
O mais estranho agora é o fator detonador de um período tão negativo. O mundo sempre será uma fonte de incertezas, ainda mais tão globalizado, mas não chega a ter problema agudo como foi a crise de 2008. Nas outras recessões houve um evento forte. Na dos anos 1980 a crise da dívida externa paralisou os países da região. No governo Collor, a atividade econômica despencou como resultado da violência do plano econômico que, além de tudo, era tão mal feito que não debelou a inflação, e o ano terminou com o índice em 1.600%.
Por tudo o que ocorreu no infeliz mandato presidencial, felizmente curto, de Fernando Collor, ele continuará sendo o pior momento da história recente do país. Mas agora, com a presidente Dilma neste começo do segundo mandato, haverá dois anos consecutivos de queda do PIB e a esperança de começar a melhorar apenas em 2017. Desta vez, a recessão se explica como resultado da má administração da política econômica.
Esta recessão foi plantada no primeiro mandato e está sendo colhida no segundo. O governo Dilma I achou que estava driblando a crise, mas a estava aprofundando, com seus gastos excessivos, política industrial equivocada, inflação reprimida. Sair desta crise é difícil porque a arrecadação tem caído, tornando o ajuste mais difícil, e ele é necessário para se começar a construir a confiança dos investidores.
Com a decisão de ontem de escalar a Caixa Econômica para dar empréstimos subsidiados para a indústria automobilística, o segundo mandato começa a repetir os erros do primeiro. O país não pode mais ter remendos, precisa de uma política econômica que crie as condições para a retomada do crescimento.
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