• Para ex-presidente, novo erro pode causar queda da sucessora
Por Dilma, Lula fará defesa mais enfática do pacote fiscal
• Interlocutores dizem que o petista 'irá para a rua' em favor das medidas
• Ex-presidente preferiria que sucessora adotasse mais incentivos fiscais, mas não vê alternativa a não ser apoiá-la agora
Natuza Nery, Marina Dias, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A principal missão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na conversa com sua sucessora, Dilma Rousseff, nesta quinta-feira (17), era ajudar a montar uma estratégia para blindar a petista e evitar a abertura de um processo de impeachment contra ela na Câmara dos Deputados.
Embora não concorde com alguns pontos do ajuste fiscal proposto pelo governo, Lula comprometeu-se em "ir para o sacrifício", segundo a Folha apurou, e fazer uma defesa mais enfática das medidas anunciadas.
Interlocutores próximos do petista afirmaram que ele "irá para rua" em favor da iniciativa de Dilma para salvar a economia.
No encontro, ele iria aconselhar Dilma a usar as reformas administrativa e política da próxima semana para amarrar o apoio dos partidos aliados –principalmente o PMDB–, evitando que essas siglas abandonem o governo num momento delicado da crise política.
Lula chegou em Brasília na tarde desta quinta e reuniu-se com a presidente no Palácio da Alvorada. À noite, ele tinha programado um jantar com ministros petistas mais próximos.
Ponto crítico
A avaliação do grupo lulista é que a crise política atingiu ponto preocupante e que qualquer novo erro do governo pode dar o empurrão que falta para a Câmara dos Deputados deflagrar, e aprovar, a abertura de um processo de deposição de Dilma.
É por isso que Lula, apesar de não ter sido consultado sobre o pacote fiscal –ele foi informado das novas medidas pela televisão– e discordar de alguns pontos, decidiu defender as ações, como a recriação da CPMF, o imposto do cheque, e cortes de gastos em programas sociais.
Aliados afirmam que o petista sabe que, na situação atual, a sua única alternativa é apoiar o governo.
O ex-presidente gostaria, por exemplo, que o palácio do Planalto adotasse agora parte do receituário usado por ele na crise de 2009, como incentivos fiscais a algumas áreas da atividade econômica brasileira.
Na semana passada, Lula fez críticas públicas à primeira versão do ajuste fiscal –bem menos restritivo que a nova versão– por acreditar que o pacote gera desemprego e achata salários dos trabalhadores.
Agora, porém, embora não tenha mudado de opinião, ele não vê alternativa a não ser dar sustentação à presidente, única forma de evitar que ela perca completamente as condições de governar.
Ressalvas
Já a cúpula do PT, que tem críticas diversas à política econômica federal, por considerá-la "de direita", também dará apoio ao pacote, mas apontará ressalvas.
A legenda sempre cobra, por exemplo, a redução da taxa de juros.
O governo anunciou R$ 24,7 bilhões de cortes de gastos, entre eles o adiamento do aumento do funcionalismo.
Espera também R$ 40,2 bilhões em aumento de arrecadação com a recriação da CPMF por um período de quatro anos, com alíquota de 0,2%, para cobrir o deficit da Previdência.
Na avaliação interna, se o Executivo não conseguir viabilizar parte das medidas do ajuste, passará a imagem de que perdeu condições de governabilidade no Congresso Nacional.
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