• ‘Solução Renan Calheiros’ é apontada como opção para escapar de cassação
Por Júnia Gama, Cristiane Jungblut e Maria Lima – O Globo
BRASÍLIA - Até pouco tempo respaldado por uma ampla base de deputados governistas e da oposição, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), viu seu apoio ruir com a revelação dos documentos das contas secretas na Suíça nas quais teria recebido propina de corrupção na Petrobras. Muitos de seus aliados, de opositores e de integrantes de seu próprio partido, passaram a defender que Cunha se afaste do cargo para tentar salvar seu mandato.
A “solução Renan Calheiros”, referência ao presidente do Senado, que em 2007 renunciou à presidência da Casa para escapar de um processo de cassação, foi citada por vários deputados próximos a Cunha como a melhor alternativa no momento.
Em conversas por telefone ontem, os líderes da oposição — PSDB, DEM, PPS e SD — avaliaram que a situação de Cunha é “insustentável”. O grupo se reunirá na próxima segunda-feira para definir um pronunciamento sobre o tema. Por enquanto, reiteram a nota divulgada no sábado passado em que apenas defendem o afastamento de Cunha da presidência da Câmara. Cresceu até entre os entusiastas do impeachment a ideia de que Cunha já não tem “legitimidade” para conduzir o processo contra a presidente Dilma Rousseff na Câmara.
— A casa caiu, ele está perdendo o timing de tudo. Como vai fazer impeachment agora? Vai ficar claro que é por vingança, perde muito a credibilidade — diz um deputado da oposição.
As negociações com o governo, a partir de agora, vão se dar em outros termos, apostam auxiliares de Dilma. Se a princípio Cunha tinha em mãos a força da caneta do impeachment para barganhar sua absolvição no Conselho de Ética ou mesmo uma desaceleração do processo no Supremo Tribunal Federal, suas opções agora estão limitadas.
— A única negociação que ele pode fazer com o governo agora é se afastar da presidência para deixar as matérias do governo tramitarem normalmente. E tem que ser rápido, porque daqui a pouco até para salvar o mandato fica tarde. E o pior que pode acontecer a ele e à família é caírem nas mãos do Sérgio Moro — disse um interlocutor do Palácio do Planalto.
Ontem, vários dos deputados que costumam frequentar o gabinete de Cunha desligaram seus telefones celulares. Nas palavras de um governista, ninguém mais quer se ver “colado” a Cunha. Houve, no entanto, exceções, como o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), que defendeu que as contradições sobre as contas na Suíça sejam tratadas como questão “fiscal”, e não criminal:
— Estou com Cunha até debaixo d'água. Mesmo que as contas sejam dele e não tenham sido declaradas, é uma questão mais do ponto de vista fiscal do que em relação ao petrolão. E na CPI ele não foi convidado, não estava sob juramento, não tinha obrigação de contar a vida da família dele.
A cúpula do PMDB enfrenta um misto de constrangimento e de “compasso de espera”. Segundo ministros e parlamentares, a tradição do PMDB não é perseguir seus integrantes, até porque muitos já sofreram investigações.
O vice-presidente Michel Temer, apesar do encontro com Cunha na semana, também está cauteloso diante dos acontecimentos. O discurso oficial, verbalizado nos últimos dias pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), é de que o estatuto do partido só prevê expulsão depois de decisão transitada em julgado.
Apesar da erosão dos apoios, o número de líderes que admitem se colocar publicamente contra Cunha ainda é pequeno. Um deles é o deputado Sílvio Costa (PSC-PE), um dos vice-líderes do governo na Câmara, que começou a articular ontem um documento assinado pelos 28 partidos da Câmara pedindo a renúncia do presidente.
— Ele não pode continuar como presidente da Câmara nesses 90 dias no Conselho de Ética. Estou sentindo dificuldades (de obter apoio). Mas estou no meu papel e continuarei com os telefonemas durante todo o final de semana.
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