• Presidente da Câmara deve usar impeachment para se desviar de acusações
Júnia Gama- O Globo
- BRASÍLIA- Confrontado pelas decisões liminares dos ministros do Supremo Tribunal Federal ( STF) Rosa Weber e Teori Zavascki, que suspenderam a eficácia de “todos os procedimentos tendentes” à execução do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDBRJ), crê que manterá seu poder monocrático para decidir sobre os destinos do governo.
Determinado a recorrer ao STF, Cunha afirmou que a decisão não “ataca” seu poder constitucional de deliberar sobre os pedidos de impeachment apresentados até agora. Para comprovar sua tese, ele disse que ontem mesmo indeferiu mais 5 pedidos de impeachment.
Mesmo com o acúmulo de evidências sobre o recebimento de propina em contas irregulares na Suíça e com a representação no Conselho de Ética assinada pelo PSOL e pela Rede, Cunha manteve todas as atenções sobre o impeachment. A aliados, reafirmou que se manterá no cargo:
— Para me tirarem da presidência, vão ter que cassar meu mandato — disse.
No governo, a avaliação é que Cunha usará o processo de impeachment para desviar o foco das acusações na Operação Lava- Jato. Em almoço com líderes de partidos da base aliada em sua residência oficial ontem, Cunha avaliou que as decisões liminares concedidas “reforçam” seu poder.
Jogo com oposição e governo
Segundo deputados que estiveram com ele, Cunha disse que, com a liminar dos ministros do STF, a decisão final sobre o que será feito em relação aos pedidos caberá somente ao presidente da Câmara. Dessa forma, a oposição terá que manter seu apoio a ele, se quiser ver prosperar um pedido impeachment — eo governo será obrigado a “manter as pontes” para evitar a deflagração do processo.
— Ou ele acata o impeachment e vai direto para a comissão especial, ou ele manda arquivar e ninguém pode recorrer. Eduardo acha que essa decisão do Supremo só reforça seu poder monocrático de decidir sobre o impeachment — afirmou um dos deputados que participou do almoço.
Cunha também sinalizou aos aliados que deve levar algum tempo para decidir sobre o principal pedido de impeachment, feito pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. Como a oposição apresentou novo pedido, frisando que as “pedaladas fiscais” continuaram em 2015, já no segundo mandato da presidente Dilma, não há previsão de quando a decisão será tomada por Cunha. O presidente da Câmara avalia que, após tomar sua decisão, correrá o risco de ser abandonado pela oposição e atacado pelo governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário