• Na Suécia, presidente diz não crer em processo de ‘ ruptura institucional’
Simone Iglesias, Catarina Alencastro, Martha Beck e Cristiane Junglbut – O Globo
- BRASÍLIA- A tentativa do ex- presidente Lula e do PT de forçar a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, irritou a presidente Dilma Rousseff. Segundo interlocutores do Planalto, o bombardeio ao ministro acabou criando “uma crise dentro da crise” e obrigou a presidente a fazer uma defesa enfática de Levy em sua viagem à Suécia.
Para os auxiliares, as declarações de Dilma fizeram com que os rumores sobre a saída do ministro se tornassem, pelo menos por enquanto, um tema superado. Isso, no entanto, não quer dizer que Levy permanecerá até o fim da gestão. O ministro tem ficado cada vez mais insatisfeito com o fogo amigo e já ameaçou deixar o cargo mais de uma vez. A última foi na sexta- feira, quando chegou a redigir uma carta de demissão e pediu uma reunião privada com Dilma.
— Levy veio para fazer o ajuste fiscal. Há sinais muito claros dados por ele internamente de que sua permanência tem prazo de validade — disse um auxiliar presidencial.
Levy acabou não apresentando sua carta de demissão, mas ele e Dilma estiveram por dois minutos sozinhos, no corredor do Alvorada na sexta- feira antes de começar a reunião da Junta Orçamentária. Segundo integrantes do governo, o ministro reclamou de fazer uma defesa solitária da CPMF e do tiroteio que sofre do PT. Dilma disse a ele para esquecer do tiroteio, garantiu que o ruído ( da CPMF) seria desfeito e falou: “vamos trabalhar, temos que resolver agora o orçamento”. Depois da reunião, o ministro embarcou para São Paulo onde teve uma conversa com o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco.
Por colegas ministros, Levy é visto como um “outsider”, um sujeito que não se encaixa no contexto do governo, mas que permanece para cumprir uma missão. Ele não tem identidade ideológica nem afinidade política com a gestão Dilma, relatam integrantes do governo. No entanto, é considerado fundamental, principalmente num momento em que as crises política e econômica se agravam, porque ser a ponte com o mercado financeiro e pela credibilidade neste meio.
A redação da carta de demissão e o vazamento da notícia de que ela seria entregue, afirmou um interlocutor do Planalto, foi uma forma de pressão, como uma jogada de pôquer: ele queria ter uma carta na manga em busca de um amparo maior tanto em relação à CPMF quanto aos ataques do PT.
Mesmo com o reforço de Dilma a Levy, parlamentares do PT mantiveram as críticas ao ministro. O senador Lindbergh Farias ( PT- RJ) disse que a presidente deve aproveitar o momento para propor novas medidas de estímulo à economia:
— A maior preocupação é com o desemprego, e a presidente tem que aproveitar essa oportunidade para apontar medidas de estímulo da economia.
Em entrevista na Suécia, Dilma comentou os pedidos de impeachment que estão sendo protocolados na Câmara para tirá- la do cargo e disse não acreditar em “ruptura institucional”.
— O Brasil está em busca de uma estabilidade política e não acreditamos que haja qualquer processo de ruptura institucional. Nós somos uma democracia e temos tanto um Legislativo, como um Executivo e um Judiciário independentes e que funcionam em autonomia, mas também com harmonia. Não acreditamos que haja nenhum risco de crise política mais acentuada — afirmou a presidente.
Questionada por uma jornalista sueca se a crise política no Brasil poderia afetar a compra dos caças Gripen, da sueca Saab, Dilma negou:
— O Brasil tem todas as condições econômicas de suportar um projeto deste tamanho.
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