- Folha de S. Paulo
A foto se espalhou nas redes como um vírus na última sexta. Na imagem, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, dorme em um voo comercial de Brasília para o Rio.
A cena, clicada por outro passageiro, deve ter inspirado solidariedade até nos críticos mais severos do ajuste fiscal. Com 1,92 metro de altura, Levy descansa de pernas e cotovelos encolhidos para caber na poltrona. O paletó está amassado, e a cabeça pende sobre o ombro esquerdo.
O ministro devia estar tão exausto que apagou sem tirar os óculos ou guardar a revista que folheava. A foto atesta que os cortes já chegaram ao dono da tesoura. Até alguns meses, ele podia tirar sonecas mais confortáveis a bordo dos jatos da FAB.
Levy tinha razões para se sentir pregado na noite de sexta. À tarde, ele foi dado como um ex-ministro em exercício. O noticiário sobre sua eventual saída do governo assustou investidores e pressionou o dólar. No fim do dia, após reclamar da fritura à presidente Dilma Rousseff, ele divulgou uma nota para anunciar o "fico".
Não serviu de muita coisa, porque o presidente do PT logo voltaria a desafiar o seu sono. "É importante mudar a política econômica", disse Rui Falcão, em entrevista à Folha publicada no domingo. "Se o Levy não quiser seguir a orientação da presidente, deve ser substituído."
Em visita à Suécia, Dilma rebateu o colega de partido e saiu em defesa do auxiliar. "O presidente do PT pode ter a opinião que ele quiser, algo que não é a opinião do governo", disse ela. "O ministro Levy fica", afiançou.
A fala mostra que o ministro ainda tem prestígio com a chefe, mas não garante sua permanência por muito tempo. Por um lado, Levy não consegue apresentar melhora nos índices econômicos, apesar do arrocho, e começa a perder a confiança de setores empresariais. Por outro, o PT e o ex-presidente Lula pressionam cada vez mais para derrubá-lo.
Nesse ritmo, em breve o ministro pode se cansar de vez e cancelar o voo de volta na segunda-feira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário