• Comportamento do peemedebista destoa do que seria esperado na crise e ministros temem que ele tenha alguma carta na manga
Vera Rosa e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
A reação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), à entrevista que a presidente Dilma Rousseff concedeu em Estocolmo, no domingo, preocupa o governo. Cunha se queixou com o vice Michel Temer e fez chegar a ministros que não gostou de ver Dilma "lamentar" que um brasileiro tenha o nome envolvido no escândalo de contas secretas na Suíça.
O troco não demorou. Cunha usou até o mesmo verbo "lamentar" para acusar o governo de protagonizar "o maior escândalo de corrupção do mundo". No Palácio do Planalto, a avaliação é que Dilma "cutucou" a onça e agora será preciso fazer um gesto político para acalmar a fera.
Cunha virou um enigma para o Planalto. O comportamento do deputado destoa do que seria esperado na crise e ministros temem que ele tenha alguma carta na manga para jogar contra o governo na última hora. Seria algo no estilo "não vou cair sozinho".
Com esse diagnóstico, mesmo acreditando que Cunha não acatará nenhum pedido de impeachment contra Dilma, o governo não acha conveniente provocá-lo. O cenário ideal para o Planalto seria a sua renúncia, mas ele já disse várias vezes que não tomará essa atitude. "Perde tempo quem apostar um centavo nisso", disse o presidente da Câmara ao Estado.
A grande aflição do governo, hoje, é em relação às medidas do ajuste fiscal, como a que cria a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e a renovação da Desvinculação das Receitas da União (DRU). O prazo está se esgotando e, na percepção do Planalto, é cada vez mais difícil aprovar qualquer coisa na Câmara enquanto a situação de Cunha não se resolver.
Diante do agravamento da crise, o governo também não pode fazer mais qualquer acordo com o presidente da Câmara. Em conversas reservadas, ministros dizem que o impasse prejudica as votações, mas "pisam em ovos" para não adotar um movimento ostensivo contra Cunha.
Chegou ao Planalto a informação de que ele poderia pedir licença para se defender, como fez o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), em 2007, no auge de outra crise política. Renan, porém, acabou renunciando. "Não existe licença (no regimento) e, mesmo se existisse, não faria", respondeu Cunha.
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