- O Estado de S. Paulo
Vida de ministro da Fazenda já não é fácil e fica pior ainda, muito pior, quando ele é um estranho no ninho, encontrou a economia destrambelhada e tem de tourear desequilíbrio fiscal, juros na estratosfera, inflação voltando aos dois dígitos, desemprego cruel e a perspectiva de dois anos seguidos de recessão – algo que não desaba sobre o Brasil desde 1930/31.
O que é que mais duro para Joaquim Levy, porém, não é nada disso. É a marcação cerrada do ex-presidente Lula, que não pode demitir Dilma Rousseff, mas já cortou a cabeça de Aloizio Mercadante da Casa Civil e continua com a foice afiada na direção do pescoço do ministro da Fazenda. Aliás, também no do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Afinal, alguém tem de pagar o pato. Levy vai ser culpado pela crise. Cardozo, pelo sufoco de filho, amigos e ex-ministros de Lula na Polícia Federal.
As investidas de Lula contra Levy nem chegam a ser novidade porque, antes mesmo da posse de Dilma no segundo mandato, ele já queria porque queria emplacar na Fazenda o seu ex-presidente do Banco Central, Henrique Meireles – que Dilma não suporta. A novidade é que a pressão não vem mais de fora e de Lula. O próprio governo começou a se mexer contra Levy, apertando o cerco em torno de Dilma. O risco é ela olhar em volta e descobrir que está sozinha, isolada, na defesa de Levy.
“Ele (Levy) não está saindo do governo. Ponto. Eu não trato mais desse assunto”, declarou Dilma há menos de um mês, na Suécia, demonstrando impaciência ao falar sobre os ataques do seu partido, o PT, ao ministro da Fazenda. Ela aproveitou para defender a recriação da CPMF como crucial, mas nem o “assunto” da queda de Levy saiu da pauta, nem a volta da CPMF entrou de fato na pauta do Congresso.
A diferença, de um mês para cá, é que os maiores adversários de Levy eram Lula, o PT, o órgão de estudos do PT, os movimentos sociais ligados ao PT. Agora, ele vem sendo bombardeado também por áreas do próprio governo, inclusive pela área financeira, e virou alvo até de manifestações contra o deputado Eduardo Cunha em São Paulo. Convenhamos, o que o pobre do Levy tem a ver com o nada pobre Cunha?
Dilma pode até reavivar seu estilão dona de si, dura na queda, que não ouve ninguém. Mas há um detalhe: Levy ficar ou não ficar no governo não depende só dela, depende também do próprio Levy e ele está emitindo sinais de que está cansado de ser o saco de pancada e mudou de tom. Diz o que pensa sem titubear, defende com vontade sua política. Quem não gostar que se dane.
Entre os novos adversários de Levy no governo, Levy é acusado de “fiscalista”, mas não consegue ao menos aprovar a CPMF no Congresso (como se dependesse dele...). Já Henrique Meirelles, da área financeira, tem experiência internacional, foi oito anos presidente do BC com Lula e segue a regra do “tudo que seu mestre mandar”. Seu mestre Lula dá de ombros ao ajuste fiscal e diz que a hora é de ressuscitar o crédito farto, o consumo, a geladeira nova, o bom humor do dono e da dona de casa. É isso que vai tirar o País da crise. Leia-se: vai garantir a candidatura dele em 2018 e salvar o PT.
Até lá, porém, Lula precisa garantir o governo Dilma. Com Levy já está esse pandemônio. Sem Levy vai melhorar? A primeira percepção dos especialistas será uma guinada populista do governo. E a primeira reação da área política será a de Dilma definitivamente refém de Lula, com os lulistas Jaques Wagner na política e Meireles na economia. O que sobraria de Dilma como presidente?
P.S.: Diferentemente de informação reproduzida neste espaço em 18/10, o delator Fernando Baiano não citou um filho de Lula, mas sim uma nora, que ele não nomeou.
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