• Cerveró delatou desvio de recursos para campanha ao governo da Bahia
Júnia Gama, Renato Onofre - O Globo
Causaram constrangimento no Palácio do Planalto os vazamentos, no âmbito da Operação Lava-Jato, que atingiram o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. Há uma avaliação no governo que, do ponto de vista investigativo, o que foi divulgado até o momento é insuficiente para sustentar a abertura de um inquérito contra o ministro. No entanto, há preocupação com a repercussão política dos vazamentos no momento em que o Planalto acredita estar retomando o protagonismo e saindo de um estado de crise permanente.
Para interlocutores do governo, os vazamentos contra Wagner têm maior potencial de dano que os contra o ministro da Comunicação, Edinho Silva. Isso porque Wagner, junto à presidente Dilma Rousseff, capitaneia o novo momento do governo, com o esfriamento do processo de impeachment e da temperatura política, graças, em parte, ao recesso do Legislativo.
Na quinta-feira, foram divulgadas mensagens de texto mostrando que Wagner prometeu, em 2014, ao empreiteiro Léo Pinheiro, ligar para o então ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, para ajudar na liberação de recursos de um convênio. Em outras mensagens, Pinheiro trata com executivos da OAS sobre pedidos de doações de Wagner para a campanha eleitoral à prefeitura de Salvador.
Já o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró afirmou em delação que recursos desviados da Petrobras podem ter abastecido o caixa da campanha de Wagner ao governo da Bahia, em 2006. As doações teriam saído de contratos da construção de um prédio da estatal em Salvador.
Cerveró disse aos investigadores que os pagamentos eram “de conhecimento notório de todos os diretores da Petrobras”, e que o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, teria direcionado as doações à campanha. Após sair da estatal, em 2012, Gabrielli assumiu uma secretaria no governo de Wagner.
“Na campanha para o governo do estado da Bahia, em 2006, houve um grande aporte de recursos para o candidato do PT, Jaques Wagner, dirigida por Gabrielli. Nessa época, o presidente Gabrielli decidiu realocar a parte operacional da parte financeira em Salvador, sem nenhuma justificativa, pois havia espaço para referida área no Rio de Janeiro”, disse o ex-diretor.
Os documentos com o depoimento de Cerveró foram publicados ontem no jornal “Valor Econômico” e obtidos pelo GLOBO. A informação sobre o suposto pagamento de propina para a campanha de Wagner não virou um dos 28 anexos da delação porque Cerveró disse à Procuradoria-Geral da República que não tinha como provar, já que ouviu a história de duas pessoas ligadas a Gabrielli: a ouvidora geral da Petrobras, Maria Augusta, falecida em 2006, e Armando Tripodi, dirigente do Sindicato dos Petroleiros da Bahia.
Em nota, Gabrielli repudiou o “vazamento seletivo de delações premiadas” e afirmou que o testemunho de Cerveró está baseado em coisas que ele “ouviu falar”. De acordo com ele, “não há uma acusação explícita, até pelo próprio delator” sobre sua participação direta “nos pretensos fatos delatados”. O ex-presidente da Petrobras disse ainda que nunca soube de uso de recursos ilegais para a campanha petista na Bahia. Wagner não comentou as declarações de Cerveró por não conhecê-las na íntegra.
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