Bruno Villas Bôas, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
RIO, BRASÍLIA - Sob pressão de preços administrados pelo governo (como energia elétrica e gasolina) e dos alimentos, ainflação foi de 10,67% em 2015, bem acima do teto da meta do governo, de 6,5% no ano.
Foi a maior escalada do IPCA, índice oficial do país, desde 2002 (12,53%), ano em que o PT venceu sua primeira eleição presidencial, gerando incertezas no mercado e alta do câmbio.
Com o IPCA acima do teto da meta, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, teve que publicar uma carta aberta ao ministro Nelson Barbosa (Fazenda) explicando por que falhou.
No texto, O BC voltou a sinalizar que pode voltar a subir a taxa de juros caso o IPCA apresente risco de estourar o teto da meta em 2016, como já é previsto por analistas.
Segundo a Folha apurou, o Banco Central buscou mostrar que, diante de pressões de dentro e de fora do governo, o momento não é de queda dos juros e pode, inclusive, exigir uma retomada da alta da taxa Selic, hoje de 14,25% ao ano.
A carta não deixa claro, porém, se um aumento dos juros pode ocorrer na próxima reunião do Copom, nos dias 19 e 20 de janeiro.
No mercado, a expectativa criada pelo próprio BC era que a instituição poderia elevar os juros em 0,50 ponto.
Causa do estouro
O documentos responsabiliza o "realinhamento dos preços administrados" e "dos preços domésticos em relação aos internacionais", por causa da desvalorização do real, pelo estouro da meta.
O texto também responsabiliza a política fiscal do governo, que prometeu, no início do ano, fazer um superavit primário de 1,1% do PIB e deve ter encerrado 2015 com um deficit de quase 2%.
Os preços estabelecidos pelo governo subiram 18,08% e responderam por 4,2 pontos percentuais do IPCA. São itens como energia (51%), gasolina (20,1%) e ônibus (15,09%), represados no ano eleitoral de 2014.
Como estão na base de custos da economia, geraram uma espiral inflacionária que afetou preços de serviços desde cabeleireiros (9,20%) a creches (15,77), por exemplo.
Os alimentos e bebidas também tiveram forte alta (12,03%). O câmbio também pesou, ao encarecer produtos cotados em dólar, como o trigo.
Futuro
Segundo economistas, a inflação deve superar também neste ano o teto da meta. É o que prevê LCA (7,1%), banco Fator (7,32%) e as consultorias Rosenberg (8%) e Tendências (7,05%). O Bradesco projeta 6,5%.
Entre os motivos apontados estão um possível aumento da Cide (tributo que incide sobre os combustíveis) de R$ 0,10 para R$ 0,25 por litro.
Em nota divulgada logo após a publicação da carta do BC, o ministro da Fazenda afirmou que o BC está empenhado em adotar as medidas necessárias para alcançar o centro da meta de 4,5% até o final de 2017. "A Fazenda contribuirá mediante a adoção de ações para o reequilíbrio fiscal e para o aumento da produtividade da economia."
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