- O Estado de S. Paulo
O vice-presidente Michel Temer prepara série de seis visitas às cinco regiões do País e uma especial ao Rio de Janeiro entre o fim de janeiro e a segunda quinzena de março, dando margem à interpretação de que a caravana visa a “tomar o pulso” do PMDB e da sociedade em geral em relação ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff em tramitação na Câmara.
De modo quase geral, analistas da cena política apontam a busca de visibilidade com vista a uma possível substituição dela por ele como a verdadeira razão da rodada. Não acreditam na versão de que o objetivo de Temer seja pacificar e unificar o PMDB antes da convenção do partido a ser realizada em março.
Contrariando o habitual, no entanto, desta vez a versão oficial está em consonância com a realidade. Por um motivo simples, objetivo e que, para ele, se impõe como prioridade: a permanência na presidência do PMDB, que ocupa desde 2001.
Nesses quinze anos, nunca foi tão importante para Michel Temer assegurar a manutenção no comando do partido.
No momento ele está menos preocupado com o mandato da presidente da República e muito mais mobilizado para salvar o próprio mandato à frente do PMDB. Se ocupando a presidência Temer já não tem controle total sobre os pemedebistas, fora do cargo aí mesmo é que seria uma figura decorativa. Um vice-presidente pela metade, desprovido de serventia política.
Uma caravana pró-impeachment nessa altura só traria mais problemas ao vice e não lhe renderia benefício algum. Já um périplo pelas seções regionais do PMDB com o intuito de pacificar o partido e sob o argumento de que a unidade em torno da figura do vice-presidente da República é crucial nessa hora de incertezas, pode dar substância ao seu cacife para vencer a ala que lhe faz oposição.
Não é um grupo qualquer. Reúne senadores de peso (Renan Calheiros, Romero Jucá e Eunício Oliveira), a seção regional fluminense, a de maior representação no partido com 10% dos delegados à convenção, com indiscreto apoio do Palácio do Planalto.
Pela primeira vez nessa década e meia, Michel Temer se vê diante da possibilidade concreta de perder a presidência do partido. De onde o mandato da presidente torna-se, para ele, uma questão secundária face à necessidade premente de salvar a própria pele. Prova disso é a visita especial à seção fluminense, impermeável ao impeachment. A discussão do tema serviria apenas ao aprofundamento da divisão, enquanto Michel Temer deseja e necessita conquistar votos apostando na união.
Vem de longe. Iniciava-se o ano de 2003, Lula recentemente eleito presidente da República. O PT organizou um encontro em São Paulo, no Hotel Hilton, pela primeira vez na vida do partido a portas fechadas, vedado o acesso da imprensa.
José Eduardo Dutra e Jaques Wagner eram cotados para a presidência do partido. Nenhum dos dois queria a função. Dutra por causa da experiência no comando do PT de Sergipe – “um horror” – e Wagner pelo desejo de ocupar a presidência da maior empresa brasileira.
Palavras de Wagner na ocasião: “Com a Petrobrás nas mãos, serei governador da Bahia”. De imediato, o interlocutor não entendeu a relação de causa e efeito, mas em retrospectiva, o diálogo, do qual jamais me esqueço, fez todo sentido.
No mesmo evento, José Genoino explicitou os planos do partido: a bordo do poder conquistar a hegemonia política, social e partidária de maneira a dominar o Brasil.
Deu errado para o PT. Mas, no fim, acabará dando certo para o combate à impunidade no Brasil. De maneira torta, os petistas escreveram de forma certa sua antiga defesa da ética na política.
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