• Pecuarista deu R$ 550 mil a firma que ajudou na reforma; compra do imóvel foi fechada no escritório de compadre de Lula
Thiago Herdy, Cleide Carvalho Silvia Amorim - O Globo
- SÃO PAULO - Documentos apreendidos pela Polícia Federal no escritório do pecuarista José Carlos Bumlai, em Campo Grande ( MS), reforçam a tese de que ele pagou parte da reforma em sítio usado pelo ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Atibaia ( SP). Uma planilha com nomes de fornecedores do pecuarista traz o nome da empresa Fernandes dos Anjos & Porto Montagens de Estruturas Metálicas vinculado a pagamentos que somam R$ 550 mil. Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, um representante dessa empresa disse ter recebido R$ 40 mil de Bumlai por serviços na reforma do sítio.
A Fernandes dos Anjos tem duas sedes, registradas em Colorado e em Nossa Senhora das Graças, no interior do Paraná. Está registrada como empresa especializada em “obras de alvenaria” e “montagem de estruturas metálicas”.
A força-tarefa da Operação Lava- Jato e o Ministério Público paulista tentam identificar os responsáveis pela reforma do sítio, que pertence a dois sócios de um dos filhos de Lula: Fernando Bittar e Jonas Suassuna. O local é usado com frequência pelo ex- presidente.
O documento que cita a Fernandes dos Anjos foi apreendido em 24 de novembro de 2015, na 21 ª fase da Lava- Jato. Ele faz menção a dois pagamentos à empresa: o primeiro no valor de R$ 455,3 mil e o segundo, de R$ 94,6 mil, sem citar datas. Esse documento está anexado a um dos processos em que Bumlai é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro por causa de empréstimo forjado de R$ 12 milhões, contraído em seu nome. O objetivo era permitir ao PT o repasse de propina de um fornecedor da Petrobras.
Negócio foi formalizado em outubro de 2010
De acordo com reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, as escrituras de compra e venda do sítio em Atibaia mostram que o negócio foi formalizado em 29 de outubro de 2010, no escritório do advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. O imóvel sítio custou R$ 1,5 milhão, dos quais R$ 100 mil foram pagos em espécie.
Pelas escrituras, o negócio foi formalizado no 19 º andar de um edifício de escritórios na Rua Padre João Manoel, no bairro dos Jardins, na capital paulista. Este é o endereço do escritório de Teixeira, que é amigo de Lula desde os anos 1980 e padrinho de Luís Cláudio, o filho caçula do ex-presidente.
Pelo documento, Fernando Bittar, filho do ex-prefeito de Campinas Jacó Bittar, pagou R$ 500 mil, e Jonas Suassuna, primo do ex-senador Ney Suassuna, arcou com R$ 1 milhão. Dos R$ 500 mil pagos por Bittar, R$ 100 mil foram “recebidos em boa e corrente moeda nacional”.
A respeito da reforma no sítio, O GLOBO perguntou ao advogado de Bumlai, Arnaldo Malheiros, quais serviços motivaram o pagamento de R$ 550 mil à Fernandes dos Anjos e por que o pecuarista pagou por serviços no imóvel.
— Esses assuntos estão surgindo agora, e nosso cliente está preso em Curitiba, de modo que não temos informação para responder a seu questionamento — disse Malheiros.
Representes da Fernandes dos Anjos não foram localizados ontem.
Em nota, o Instituto Lula disse que, desde 2011, ele frequenta “um sítio de propriedade de amigos da família” e que “a tentativa de associá-lo a supostos atos ilícitos tem o objetivo mal disfarçado de macular a imagem do ex-presidente”.
Ontem, o ex- presidente da OAS Léo Pinheiro compareceu a Curitiba, onde corre a maior parte dos processos da Lava- Jato, para prestar depoimento na investigação sobre a participação da empreiteira na compra de móveis planejados da Kitchens, loja especializada em itens de cozinha, entregues no sítio de Atibaia e também no tríplex que estava reservado para a família Lula no edifício Solaris, no Guarujá (SP).
Durante o depoimento, Pinheiro permaneceu em silêncio. Pelo menos outros dois funcionários da OAS já foram ouvidos nesta investigação.
Segundo as investigações, o ex-executivo da OAS Paulo Gordilho teria pagado R$ 130 mil em dinheiro pelos itens de cozinha para o sítio, em feita em março de 2014. A nota fiscal, porém, foi emitida em nome de Fernando Bittar, um dos donos do sítio. Além de itens de uma cozinha planejada, que somaram R$ 28 mil, foram entregues um refrigerador de R$ 9,7 mil, uma lava- louças de R$ 9,1 mil, um forno elétrico de R$ 10,1 mil e uma bancada de R$ 43 mil.
Em novembro do mesmo ano, Gordilho pagou, na mesma loja, por outra despesa, no valor de R$ 78,8 mil, por itens de cozinha entregues no tríplex que estava reservado para a família de Lula no Guarujá. O ex-presidente afirma ter desistido de comprar o imóvel.
Promotor intima Lula e Dona Marisa
Anteontem, o “Jornal Nacional” mostrou que a compra de itens de cozinha para o sítio e para o triplex, em 2014, foram realizadas na mesma loja, em São Paulo. Segundo investigadores, foi possível identificar que o pagamento foi feito pela empreiteira porque, nas duas compras, o negócio foi fechado por Gordilho.
Responsáveis por retirar móveis do tríplex do Guarujá, após o caso vir à tona, representantes da empresa Granero devem ser chamados a prestar esclarecimentos à força- tarefa da LavaJato nos próximos dias. O promotor Cássio Conserino intimou Lula e sua mulher, dona Marisa, a prestar depoimento no próximo dia 17.
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