- Folha de S. Paulo
Digo com franqueza que não tenho nenhum prazer em ver alguém na cadeia, impedido de sair à rua livremente, ir dar uma volta a toda ou entrar num cinema. Ficar trancado numa cela é barra. Mas, infelizmente, em certos casos, não há alternativa. Pior é no Irã, que não só encarcera como executa os condenados às centenas.
Se digo isso é porque penso assim, embora admita que, sem punição, a criminalidade de todo tipo tomaria conta do país. É o caso da corrupção, que atinge nível nunca alcançado antes, pelo que se saiba. E o pior é que não se trata apenas de roubar o celular do transeunte, mas de assaltar os cofres públicos, seja se valendo de contratos fajutos, seja pelo suborno, que montam a milhões, se não a bilhões de reais.
As últimas pesquisas de opinião mostram que o povo está indignado com a corrupção e exige que os ladrões sejam punidos. Eis por que eu, que não gosto de ver ninguém preso, sou obrigado a aprovar a atuação da Lava Jato, que põe na cadeia gente fina, presidentes de grandes empreiteiras, senador, altos funcionários do Estado. Ver esse pessoal entrando algemado num camburão, confesso que me dá alguma esperança no futuro deste país.
Dizer que tenho esperança não significa que tenha certeza. E se não tenho certeza é porque esse pessoal não desiste, tanto que passaram a afirmar que a Lava Jato é uma operação antidemocrática, pior do que fazia a ditadura militar. Tiveram a coragem de dizer isso num manifesto assinado por dezenas de advogados, muitos deles pagos pelos corruptos.
A verdade é que os processos instaurados pela Lava Jato têm sido conduzidos em estrito respeito às normas processuais –tanto assim que, com exceções, foram todos aprovados pelo Supremo Tribunal Federal. A delação premiada, que possibilita à Justiça conhecer as tramas criminosas, é um instituto legal e, por isso mesmo, constitui o pavor dos corruptos e a derrota dos advogados que os defendem.
Daí o manifesto, forjado por iniciativa da Odebrecht, tentando desautorizar a Operação Lava Jato.
Um manifesto! Fazia tempo que não se via manifesto político em nossos jornais. Eu, que ajudei a redigir alguns, lembrei-me naturalmente dos manifestos daqueles anos da ditadura, quando denunciávamos o arbítrio dos militares e exigíamos a libertação de nossos companheiros. Os presos daquela época eram dirigentes partidários, militantes das áreas universitária e sindical, artistas e intelectuais, que lutavam contra os militares.
Os tempos mudaram! O manifesto de agora não foi escrito para defender os defensores da democracia, e sim os inimigos da ética e do bem público, ou seja, empresários, políticos e burocratas corruptos.
Pois é, quando a trapaça vira moda, a gente se depara, a cada momento, com esse tipo de desfaçatez. Outro dia, a presidente Dilma Rousseff não se comparou a Getúlio Vargas?! É muita cara de pau, pois se sabe que Getúlio criou a Petrobras, enquanto ela, Lula e seu partido, apropriaram-se da empresa para saqueá-la, quase levando-a à falência.
Lembro-me da época em que Lula e sua turma acusavam os adversários políticos de quererem privatizar a Petrobras. Essa privatização nunca houve, mas eles fizeram pior: saquearam-na em sociedade com a Odebrecht, a Andrade Gutierrez, a Camargo Corrêa e vigaristas como Youssef, Cerveró, Paulo Roberto Costa, Renato Duque...
Um dos exemplos mais descarados desse período foi o escândalo do mensalão, quando Roberto Jefferson denunciou a compra pelo governo de deputados federais.
Tomado de surpresa, Lula declarou: "Fui traído". Traído por quem? Ficou comprovado que os deputados tinham sido subornados com dinheiro do Banco do Brasil e que os executores dessa tarefa foram José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, todos eles da total confiança de Lula.
E em que consistiu a tal traição? Comprar deputados para que votassem a favor de tudo que Lula quisesse. Este é um raro exemplo de uma traição que, em vez de prejudicar o traído, beneficia-o.
Como se vê, Lula dá azar, pois agora mesmo se sabe que novos traidores lhe deram de presente um apartamento tríplex e um sítio que valem milhões.
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