• Acusações contra Lula e Dilma podem fortalecer protestos no país
Marco Grillo e Marlen Couto - O Globo
O impacto a longo prazo das acusações que pairam sobre o ex-presidente Lula na Operação Lava-Jato ainda é incerto, mas historiadores e cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO consideram que, por enquanto, é possível dizer que a imagem do principal líder do PT foi abalada. As revelações apontadas pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS), que também afetam a presidente Dilma Rousseff, associadas à condução coercitiva de Lula à Polícia Federal, podem inflar movimentos que pedem a saída da presidente. Uma manifestação pró- impeachment está prevista para o próximo domingo. Ao mesmo tempo, a militância petista promete reagir, também nas ruas, ao que chama de tentativa de golpe.
A visão de José Álvaro Moisés, cientista político da USP:
‘É preciso evitar violência e confronto’
“Em primeiro lugar, é preciso saber se a delação do senador Delcídio Amaral vai ser homologada pelo STF. Existem acusações muito graves contra o ex-presidente Lula e a presidente Dilma.Isso colocaria o impeachment de novo na ordem do dia e poderia provocar consequências mais graves para o ex-presidente. Uma outra possibilidade é o ex-presidente Lula usar o seu prestígio. O fato de ter sido levado a depor por condução coercitiva faz com que ele se apresente como vítima, o que tem repercussão grande entre apoiadores. Pode ser que isso abra espaço para uma recomposição da sua imagem e o da imagem do PT. O PT passa por um momento de debilidade, e o governo está muito desorganizado. Se o PT encontra a bandeira da vitimização, por causa, eventualmente, de algum elemento interpretado como persecutório, vai usar essa retórica.Sem dúvida, são elementos que vão inflar a manifestação do dia 13, convocada pela oposição. Acho que deveríamos fazer no país inteiro um grande esforço para que isso não se reflita em confrontos e violência”.
A visão de Daniel Aarão Reis, professor de História da UFF:
‘Lula poderá aparecer como vítima’
“Ainda é cedo para conclusões definitivas sobre a extensão — e a profundidade — dos abalos sofridos pela imagem do ex- presidente Lula, em virtude dos últimos acontecimentos. É verdade que as pesquisas de opinião pública têm revelado um crescimento do repúdio à corrupção. Mas não é menos verdade que a grande maioria da população considera que a corrupção é endêmica e impregna todos os poros do regime político. Por outro lado, a memória dos governos Lula ( 2003- 2010) é de prosperidade, paz social e euforia nacional. Não gratuitamente, apesar do desgaste, ele consegue ainda um patamar de 30% a 35% de intenções de voto numa eventual disputa presidencial. Um outro aspecto deve ser considerado nessa discussão: se nenhuma acusação for provada contra Lula, ele poderá aparecer como vítima, fazendo com que as acusações tenham um efeito bumerangue, voltando- se contra os acusadores. Em resumo, eu diria que a era Lula ainda não acabou, mas está, sem dúvida, corroída.
A visão de Felipe Borba, cientista político da Unirio
‘A política vai ficar mais violenta’
“É um caminho sem volta. A política vai se tornar cada vez mais violenta, porque deixou de ser uma disputa de ideias, de políticas públicas, para ser política de destruição de adversário. Achei um excesso essa condução coercitiva, porque o Lula não havia se recusado a depor. Isso acaba acirrando os ânimos, porque quem gosta e vota no Lula considera uma ação desse tipo fora de propósito. Parece que os movimentos de esquerda não vão ficar tão acomodados. A tendência é que comecem a organizar manifestações de apoio ao Lula e de críticas à Operação Lava-Jato. Isso vai acirrar o outro lado também. A manifestação do dia 13, convocada pela oposição, tem tudo para ser, senão a maior, ter a mesma dimensão da primeira passeata. Tem tudo para incendiar o país, e a política pode tomar um caminho que a gente não via há algumas décadas. O Lula sabe que tem que brigar. Ele foi convidado para o centro do ringue, não tem como fugir. Acredito que a esquerda, de um modo geral, não sei se vai comprar a briga, mas vai se solidarizar com o Lula”.
A visão de Carlos Pereira, cientista político da FGV-Ri
‘Consequências devastadoras para Lula’
“A primeira reação é o fortalecimento da democracia brasileira. Um mandado de condução coercitiva para um ex-presidente da República, no momento em que seu partido político ainda está no poder, mostra o grau grande de maturidade da democracia brasileira. As consequências são devastadoras para o legado de Lula. Temo que ele será lembrado como um presidente que gerou inclusão, mas também por um escândalo bilionário de corrupção. Naturalmente, Dilma sofre ainda mais, em um governo fragilizado. É um tsunami político, com consequências desastrosas para a história do Lula, do PT e para o governo Dilma. Os últimos acontecimentos relançam a agenda do impeachment. Imagino que as manifestações vão pipocar e pressionar deputados que estavam receosos em votar a favor do impeachment. Não acredito que os protestos pró-Lula serão robustos, porque há indícios graves do seu envolvimento nesse escândalo. O cidadão comum, que votou no PT nas eleições, não vai arcar com o custo político de ir para a rua”.
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