Por Cristian Klein e André Ramalho – Valor Econômico
RIO - O presidente interino Michel Temer afirmou que o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que o citou em delação premiada no âmbito da Operação Lava-Jato, "quer polarizar" com ele. Em entrevista exibida ontem na Globonews, no programa Roberto D'Ávila, Temer voltou a negar a acusação de que teria pedido a Machado que o ajudasse a conseguir uma propina disfarçada de doação eleitoral para a campanha do então candidato a prefeito de São Paulo, em 2012, Gabriel Chalita. "Imagine se eu tivesse pedido... Você acha que eu ia me servir dele [Machado] tendo o prestígio que tenho no cenário nacional? Empresários falavam e falam comigo", respondeu.
Questionado se não processaria o ex-presidente da estatal, Temer disse que não "porque o que ele mais deseja é isso". "Ele não falou apenas de mim, mas de vários partidos e pessoas. Ele quer polarizar comigo. Eu não falo para baixo."
Temer disse que não interfere na Lava-Jato, mas que há uma "criminalização das doações eleitorais feitas no passado". "É possível que algumas sejam ilícitas, mas não acredito que a maioria tenha sido assim", afirmou, fazendo uma crítica velada ao processo desencadeado pela operação. "Eles estão exercendo o seu papel. Mas estamos em fase investigatória, e quando se é apontado vemos que já é condenado. Não é assim. Inquérito, como o nome diz, é uma inquirição, uma indagação", disse.
O presidente interino negou que seu governo seja influenciado pelo presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, e reconheceu que a situação de incerteza na Casa, se o pemedebista renuncia ou não, precisa ser resolvida. "É complicado porque na verdade o interessante é que a Câmara defina logo o seu destino. Mas isso deverá ter uma solução", disse, numa declaração que soou como retirada de apoio ao correligionário.
Em seguida, porém, Temer o elogiou ao falar sobre a possibilidade de nova eleição à presidência da Câmara. "Não sei dizer se vai haver ou não, ele [Cunha] teria que renunciar, está se defendendo como pode, eu diria até que é um batalhador no plano político e jurídico", afirmou o presidente interino, acrescentando que o governo, apesar dos problemas internos da Casa, não tem tido dificuldade para aprovar as medidas enviadas, pois as lideranças partidárias estão exercendo o controle da situação.
Se não quis "falar para baixo" com Sérgio Machado, Temer aproveitou para avançar em críticas à presidente afastada Dilma Rousseff. Rechaçou a proposta de convocação de um plebiscito, para que a população se manifeste se deseja novas eleições, como sugerido pela petista. "Não acho útil para a senhora presidente [a proposta]. Se admite [plebiscito] é porque quer voltar para depois não governar. Eu não saberia dizer se é porque ela não terá governabilidade, mas então é porque não quer governar", afirmou Temer, negando ter conspirado pela admissibilidade do processo de impeachment na Câmara.
"Não traí ninguém. O que houve foi um processo de impedimento. Não fiz um movimento", disse. Temer concordou com o entrevistador, ao afirmar que a crise econômica prejudicou a governabilidade de Dilma, mas sublinhou: "E uma certa falta de diálogo com o Congresso. Eu assumi e conseguimos aprovar questões difíceis".
Sobre a renegociação da dívida dos Estados, pela qual o governo federal abriu mão de R$ 50 bilhões até 2018, Temer reconheceu que "a União vai perder". "Mas não tem importância. Os Estados ganham. É preciso uma grande repactuação [federativa]", disse o presidente interino que voltou a afirmar que não disputará reeleição, caso substitua Dilma em definitivo e seu governo seja bem-sucedido.
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