• Problemas ocorridos em eventos passados não justificam falhas no Rio, mas indicam ser impossível a inexistência de dificuldades em eventos internacionais gigantescos
A cerimônia que abre hoje no Maracanã a Olimpíada do Rio é um marco festivo de um projeto que levou sete anos para ser executado, desde a escolha da cidade para sediar os Jogos de 2016, os primeiros na América do Sul. Nada leva a crer que será um fracasso. Em que pesem os desacertos e problemas de planejamento e execução, vários constatados logo na chegada das primeiras delegações à Vila Olímpica, na Barra. Mas qual Olimpíada, dada a magnitude do evento, não enfrentou percalços?
Na última de Londres, em 2012, houve filas gigantescas diante dos guichês da imigração no aeroporto de Heatrow. Passageiros olímpicos chegaram a esperar até duas horas e meia para carimbar o passaporte. Na Vila, nos 30 graus do verão europeu, atletas reclamaram da inoperância de aparelhos de ar condicionado. O esquema de segurança também falhou: a firma particular contratada não arcou com o serviço, e os organizadores tiveram de pedir ajuda às Forças Armadas britânicas.
No passivo dos Jogos de Pequim, em 2008, destaca-se a severa poluição atmosférica na cidade, problema que as autoridades haviam prometido resolver. Atletas usaram máscaras para se proteger. Enquanto em Atlanta, em 1996, a rígida segurança norte-americana não conseguiu abortar um atentado terrorista de um grupo da extrema-direita americana. Além disso, a cidade foi paralisada por grandes engarrafamentos.
Nada justifica as falhas brasileiras, mas o passado serve para ajudar a entender o presente. Por deficiências conhecidas do poder público brasileiro, também podem ser enfrentadas dificuldades nas provas de regata na Baía de Guanabara devido à poluição, um monumento à incúria de governantes fluminenses, incluindo prefeitos de municípios que despejam esgoto na região, por não contar com redes de coleta dos dejetos.
É provável, ainda, que o clima político do país, em que as forças minoritárias que apoiam o PT e a presidente afastada, eficazes em promover no exterior uma campanha de pessimismo em torno do país, tenha contribuído nos prognósticos negativos, lá fora, para os Jogos do Rio.
Falta esperar a evolução das competições em arenas, estádios, raias, quadras, que se mostram minimamente preparadas para elas. O resto é a hospitalidade conhecida do carioca, a capacidade de festejar em espaços públicos, marcas da cidade. São predicados já vistos em grandes eventos recentes, também internacionais: o Pan e a Copa do Mundo, sem falar da Jornada Mundial da Juventude, com a presença do Papa Francisco.
O aspecto da segurança é crucial nestes momentos, em qualquer lugar do planeta, embora no Rio a questão, por óbvio, tenha características de grande sensibilidade. Daí a necessidade da ampla mobilização de forças policiais estaduais e federais, com suporte internacional, devido ao terrorismo.
Quem visita o Rio pode usufruir de investimentos feitos em torno do projeto dos Jogos, como o novo Porto, uma linha de metrô para a Barra que, por ser um “puxado”, não pode se resumir a ela; os BRTs e o simpático VLT.
Há um saldo final amplamente positivo, até com o aproveitamento posterior de espaços criados para a competição, convertidos em escolas e zonas de lazer, caso de Deodoro. Conforme demonstrou estudo da FGV, a cidade já acumulou vários ganhos sociais, inclusive de renda. A tendência é que o pessimismo e o compreensível mau humor derivados da situação se diluam. E espera-se que, a partir do Jogos, o Brasil entre em nova e melhor fase.
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