• Partido, que controla a prefeitura do Rio e o governo do estado, vê avanço do desgaste de principais líderes
Fernanda Krakovics, Gustavo Schmitt - O Globo
Primeiro, vieram a crise e a penúria do estado. Depois, a derrota na eleição para a prefeitura. Agora, o PMDB do Rio enfrenta o desgaste de acusações de corrupção contra lideranças do partido, feitas em delações premiadas ou em negociações com o Ministério Público Federal para a obtenção do benefício. E ainda vê no horizonte a possibilidade de perder um de seus principais quadros no estado.
A apreensão aumentou após a prisão de Eduardo Cunha, na última quarta-feira. E não é só. A negociação do acordo de delação de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, que tem como alvo o ex-governador Sérgio Cabral, também amedronta.
FORTALECIMENTO DO ESTADO
Cacique mais poderoso do PMDB estadual, o presidente da Alerj, Jorge Picciani, é outro que não passou imune pelas investigações da Lava-Jato. O empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, disse em delação premiada que comprou vacas superfaturadas da Agrobilara, empresa da família Picciani. O presidente da Alerj nega irregularidades. Moreira Franco, por sua vez, viu-se envolvido na delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht.
Na esteira das dificuldades enfrentadas pelo partido, há o temor entre os peemedebistas de que o prefeito Eduardo Paes, pré-candidato a governador em 2018, deixe a sigla no médio prazo. Por isso, o PMDB evitou responsabilizálo pelo fracasso em fazer seu sucessor mesmo depois de ele ter insistido em manter a candidatura de Pedro Paulo quando este foi acusado de agredir a ex-mulher.
Ainda assim, setores do partido não descartam a hipótese de Paes sair candidato por outra legenda, com apoio dos antigos correligionários, se a situação da sigla ficar insustentável por causa das acusações de corrupção. Depois de concluir seu mandato, o prefeito passará um ano nos Estados Unidos. Ele dará aulas na Universidade de Columbia, em Nova York. Eventuais negociações para a troca de partido não devem acontecer antes disso.
Mas no próprio grupo político do prefeito há preocupação com as incertezas provocadas pela prisão de Cunha e pelo que ele poderia dizer às autoridades. Comenta-se nos bastidores que a vingança do exdeputado já está em curso. Segundo fontes, por mágoa do PMDB, Cunha teria articulado apoio de suas bases eleitorais na Zona Oeste a Flávio Bolsonaro e a Marcelo Crivella, no primeiro turno da eleição, em detrimento da candidatura de Pedro Paulo (PMDB). Inicialmente, Pedro Paulo disse que se ausentaria da votação pela cassação de Cunha. No entanto, acabou cedendo e votando contra o ex-aliado.
Para pessoas próximas a Paes, a operação urbana de revitalização da Zona Portuária, o Porto Maravilha, é o tema que mais preocupa. Em delação, os empresários da Carioca Engenharia, Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Jr., relataram propinas de R$ 52 milhões para Cunha a fim de liberar recursos do FGTS para obras no porto, de responsabilidade da Odebrecht e da OAS.
Como ação política para minimizar os desgastes, peemedebistas afirmam que o caminho é tentar fortalecer o governo do estado, comandado pelo partido. A falência do Rio afeta o pagamento do salário de servidores, as aposentadorias e a prestação de serviços à população, como nas áreas de saúde e segurança pública.
A cúpula do PMDB pressiona Pezão a fazer reformas e lançar mão de cortes na máquina para ao menos reduzir os efeitos da crise. A resistência do governador a fazer mudanças tem irritado peemedebistas. Eles ameaçam uma articulação pelo impeachment do governador na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), onde já há um pedido de afastamento protocolado.
Pessoas próximas a Picciani têm dito reservadamente que pode haver dificuldades para aprovar as contas de Pezão, já que o estado teria descumprido limites constitucionais de gastos no ano passado. O governo do Rio nega.
A liderança de Marcelo Crivella (PRB) nas pesquisas de intenção de voto é outro revés. Peemedebistas torcem para Marcelo Freixo (PSOL) ganhar a eleição, apostando em uma administração malsucedida. A avaliação é que esse seria o caminho mais rápido para o PMDB voltar à prefeitura em 2020. Ainda assim, boa parte dos vereadores peemedebistas já aderiram à base de sustentação de um eventual governo do bispo licenciado da Universal.
Já o ex-governador Sérgio Cabral, citado na negociação de delação premiada do empreiteiro Fernando Cavendish, não aparece em público há pelo menos um ano, embora continue dando as cartas no PMDB fluminense. Cabral integrava o comando da campanha de Pedro Paulo, por exemplo, mas não participou de nenhuma agenda pública nem teve sua imagem exibida na propaganda de TV.
DELAÇÃO AGRAVA DESGASTE
Reeleito em 2010 no primeiro turno, Cabral concluiu seu governo com alto índice de rejeição. Em julho de 2013, sua gestão era a que tinha a pior avaliação no país, segundo pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) em parceria com o Ibope, feita em 11 estados. Apenas 12% da população consideravam sua gestão ótima ou boa. Essa sondagem foi feita na esteira das manifestações de junho daquele ano, que ocuparam as ruas do país e tiveram o Rio como um de seus principais palcos. Manifestantes chegaram a acampar em frente ao prédio onde Cabral mora, no Leblon, Zona Sul da cidade.
Fragilizado por delações de empreiteiros que o acusam de cobrar propina por obras como a reforma do Maracanã, o ex-governador viu sua situação se agravar nos últimos dias. Na quinta-feira, O GLOBO revelou que Cavendish afirmou à Lava-Jato ter dado de presente para a mulher do ex-governador um anel de ouro branco com brilhantes, avaliado em R$ 800 mil, quando os dois viajaram juntos para o Principado de Mônaco, em 2009.
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