- O Estado de S. Paulo
• Algum reconhecimento dos equívocos até que existe, mas não apontam quais foram
Nas últimas semanas pipocam as advertências de dentro do próprio PT de que é preciso refazer o chão e começar de novo.
Para que tenham um mínimo de consequência, essas coisas têm de começar com o reconhecimento dos erros e isso é complicado, porque depende de diagnósticos corretos e de concepção adequada das políticas, a que o PT não está acostumado ou não está disposto a fazer.
Algum reconhecimento dos equívocos até que existe. Mas é iniciativa inconsistente de políticos e dirigentes que admitem – vá lá – que “alguns erros foram mesmo cometidos”, sem, no entanto, dizerem quais foram. Ou então, esse reconhecimento meia-boca vem acompanhado de observações vazias, de que errar é humano, quem não erra que atire a primeira pedra, etc.
Persiste o discurso conspiratório de que o PT é vítima de um golpe ou da perseguição sistemática praticada por políticos picaretas (sempre há pelo menos 300 na Câmara dos Deputados, como já avisou o ex-presidente Lula) mancomunados com as elites irresponsáveis, com membros da magistratura megalomaníaca e seletiva e com a mídia burguesa e monopolista. Enfim, trata-se de lenga-lenga idêntica à que se dedica agora o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump.
Se de fato foi vítima de inimigos tão poderosos, então o PT também terá errado porque não levou em conta sua força no jogo político nacional.
Mais do que simplesmente ter cometido erros, o PT falhou porque se concentrou na execução do seu projeto de poder. Deu prioridade à transformação do povão em consumidor classe C, sem proporcionar condições sustentáveis de redenção por meio de programas de educação, saúde, saneamento, segurança e, obviamente, emprego. Os projetos de reforma foram abandonados e, uma vez instalados nos aparelhos de Estado, os companheiros atiraram-se aos potes de melado e se lambuzaram – para resgatar aqui rara manifestação de sinceridade do ex-ministro Jaques Wagner.
Mas, como este cantinho de jornal vem repetindo, o gatilho do impeachment (e, agora, também da derrota arrasadora do PT nas últimas eleições) tem diretamente a ver com a desastrosa política econômica adotada especialmente pelo governo Dilma. Mais do que um erro primário, agasalhar o ponto de vista de que o equilíbrio das contas públicas não tem importância para os objetivos de política social foi fatal para os resultados colhidos. Entre eles estão recessão profunda, desemprego de 11%, inflação beirando os 10% ao ano, juros básicos a 14,25% ao ano, desmonte da indústria, asfixia da Petrobrás e do setor elétrico...
A política de austeridade “é rudimentar” – já dizia em 2005 a então ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, quando se referiu ao plano de resgate fiscal do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci. E esse entendimento teve consequências.
Os documentos mais recentes mostram que as concepções esdrúxulas de política econômica continuam permeando a cúpula do PT. Recomendam queima de reservas, aumento de impostos, especialmente com criação de imposto sobre grandes fortunas, e derrubada imediata dos juros, desconsiderando-se as implicações do regime de metas de inflação. E isso mostra que não há arrependimento nem convicção.
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