Por André Guilherme Vieira e Maíra Magro – Valor Econômico
SÃO PAULO E BRASÍLIA - Dois ex-executivos de empresas do Grupo Odebrecht, que assinaram acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), disseram ao Valor, sob o compromisso de ter seus nomes mantidos em sigilo, que estão apreensivos com os vazamentos de anexos de informações e de detalhes sobre o teor das pré-delações de ex-funcionários do conglomerado. Um deles pondera que esses vazamentos podem ser "fogo amigo": estariam sendo feitos a mando da própria Odebrecht. Segundo essa lógica, a empresa já teria conquistado seu objetivo maior com os acordos: o fechamento da leniência na esfera civil, a rolagem do pagamento da multa bilionária em 20 anos e a garantia de voltar a ter fluxo de caixa em um futuro próximo, retomando contratações com o Poder Público.
A inviabilização das delações premiadas, a partir de seus vazamentos à imprensa, abriria a possibilidade de retomada de um grande acordo com políticos e autoridades delatadas nos anexos, de modo a "zerar o jogo" e a viabilizar a tese jurídica de que os pagamentos foram doações eleitorais pela via do caixa dois, e não gratificações em troca de corrupção.
Ontem, o ex-presidente e herdeiro da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, prestou seu primeiro depoimento em delação premiada por quase quatro horas em uma sala da Polícia Federal (PF) em Curitiba, onde está preso preventivamente. Ele foi ouvido pelos procuradores Deltan Dallagnol (coordenador da força-tarefa da Lava-Jato na primeira instância), Carlos Fernando dos Santos Lima, Diogo Castor de Mattos e Athayde Ribeiro Costa. Marcelo falou das 14h30m às 18h15m e poderá prestar novos depoimentos ainda esta semana.
Em Brasília foi ouvido o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho. A pré-delação dele atingiu em cheio o núcleo do PMDB no governo, e o grupo mais próximo do presidente da República. Michel Temer também não foi poupado. A ele, Melo Filho atribuiu o pedido de R$ 10 milhões que teria sido feito pelo pemedebista ao próprio Marcelo Odebrecht, em reunião realizada em maio de 2014 no Palácio do Jaburu.
O mutirão planejado pela PGR para tentar ouvir os 77 delatores da Odebrecht antes do recesso judicial, que começa no dia 19, também teve mais uma etapa cumprida ontem. Em São Paulo houve depoimentos na Procuradoria da República.
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