Aliados do presidente falavam em votar a favor da cassação de Aécio
Decisão pode mudar se houver fatos novos, admitem tucanos; segundo Serra, apesar da manutenção da aliança, deputados do partido não serão obrigados a rejeitar a abertura de processo no STF contra presidente
Pressionado pelo PMDB, que ameaçou até votar a favor da cassação do mandato do senador Aécio Neves, o PSDB decidiu ficar no governo Temer, contrariando parte de seus deputados e senadores. Se houver fatos novos, os tucanos admitem mudar de ideia. Oficialmente, o motivo foi garantir a aprovação das reformas. Desde o fim da semana passada, porém, peemedebistas ameaçavam também impedir alianças para 2018. Segundo o senador José Serra, deputados do partido não serão obrigados a votar pela rejeição da denúncia da PGR contra Temer.
PSDB diz a Temer que fica
Partido alega apoio a reformas, mas PMDB pressionou com situação de Aécio e apoio em 2018
Maria Lima, O Globo
-BRASÍLIA- Ao fim de quase quatro horas de discussão, a Executiva Nacional do PSDB decidiu ficar onde está: continuar sustentando e participando do governo do presidente Michel Temer, apesar do bombardeio da opinião pública nas redes sociais e da pressão da ala jovem de deputados e senadores. Oficialmente, o motivo para permanecer no governo foi garantir a aprovação das reformas. Desde o fim da semana passada, porém, houve muita pressão de peemedebistas, que ameaçavam retaliar um eventual rompimento com a cassação do mandato do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o fim de qualquer negociação sobre aliança para 2018.
— A pior coisa para o Brasil e o partido é o PSDB se dividir. O PSDB não fará nenhum movimento agora no sentido de sair do governo. Em toda decisão, deve-se olhar para a frente, para o que vem depois — justificou o senador José Serra (PSDB-SP), ressaltando que, diante de fatos novos, pode mudar de ideia.
Segundo o senador, a manutenção do apoio, no entanto, não obrigará os deputados do partido a votarem contra a continuidade da denúncia que deverá ser encaminhada pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer. O pedido da PGR precisa ser aprovado por 2/3 dos deputados para que o Supremo Tribunal Federal possa recebê-la. Neste caso, Temer seria afastado do mandato.
Apesar da maioria dos tucanos se manifestar pela continuidade de apoio ao governo Temer, com manutenção dos ministros, a Executiva do partido decidiu encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF) um recurso extraordinário contra a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que livrou o presidente da cassação.
— Não tem incoerência nenhuma. Quando os ministros foram indicados, a ação já estava correndo. A ação originária é do PSDB, se não recorrermos estaremos prevaricando — disse o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP)
Os discursos durante a reunião foram todos no mesmo sentido: o PSDB não pode abrir mão da responsabilidade de ajudar o governo a continuar a fazer as reformas. Os tucanos ponderaram que as reformas são o projeto político do próprio partido e que, se abandonasse Temer, seria obrigado a integrar a oposição ao lado de seus adversários ideológicos do PT e do PSOL. Pesou ainda na decisão o apego aos ministérios. Um exemplo citado era o das Cidades, responsável pela gestão do programa Minha Casa Minha Vida, que permitiria conseguir apoio entre eleitores mais pobres, hoje apoiadores do PT.
Em seu discurso, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), fez defesa veemente do apoio ao governo Temer:
— Os jovens cabeças pretas devem aprender com a experiência dos cabeças brancas. O compromisso do PSDB é com as reformas e com o Brasil. Temos quatro ministros que estão desempenhando seu papel muito bem.
Os governadores presentes também discursaram em defesa da manutenção do apoio a Temer. O governador do Paraná, Beto Richa, disse que a base no Congresso estava dividida, mas que entre os governadores há convergência pela manutenção do apoio ao governo, para não fazer recuar a economia, que deu sinais de sobrevida.
— Prevaleceu o discurso dos mais experientes pró-reformas e de responsabilidade com o país, a retomada do crescimento e apoio a governabilidade — disse o governador de Goiás, Marconi Perillo.
Na reunião de ontem, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi o porta-voz da ala que quer o afastamento definitivo do senador Aécio Neves (MG) da direção do PSDB. Até a delação da JBS vir à tona, Aécio presidia a legenda. Diante da crise, ele passou o cargo temporariamente ao senador Tasso Jereissati (CE), mas ainda conserva muitos aliados na Executiva. Em seu discurso, Alckmin disse que é hora de renovar o partido, começando pela antecipação das eleições internas para troca dos dirigentes em todos os níveis e foi efusivamente aplaudido.
A próxima eleição para escolha dos dirigentes nacional e regionais aconteceria em maio de 2017, mas agora a tendência é que ela ocorra até o fim do ano. O posto de presidente nacional do partido deve ficar com o próprio Tasso Jereissati. Escolhido por Aécio como sucessor interino, o senador conta hoje com o apoio também do grupo de Alckmin.
— Vai ser muito bom, vai arejar o partido — disse Serra.
Os tucanos tentaram desvincular a situação de Aécio da decisão da legenda de ficar com Temer. Ministros e líderes disseram que relacionar o apoio a uma troca pelo arquivamento do processo de cassação do senador no Conselho de Ética seria relegar “os interesses do país” a questões menores. O ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, que defende a manutenção do apoio, disse que o fator principal para a decisão, é a grave crise política e econômica por que passa o país.
— Absolutamente, essa decisão nada tem a ver com o apoio do PMDB ao PSDB em 2108, nem a Aécio no Conselho de Ética. Nesse momento grave, o que vai pesar para a decisão soberana do PSDB é o país — disse Imbassahy.
O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) ainda tentou fazer valer sua posição em defesa da saída do governo imediatamente. Lembrou que na reunião da cúpula tucana no gabinete de Tasso, na última quarta-feira, estava quase batido o martelo pelo desembarque.
— O que mudou de lá para cá? Eu não consigo entender nem explicar. Na quarta-feira parecia estar tudo muito claro. Mas parece que de lá para cá houve movimentos muito fortes que mudaram o jogo — disse Ferraço.
Na sexta-feira caciques do PMDB se reuniram no Senado e avisaram ao PSDB que, em caso de rompimento, seria muito difícil o partido apoiar um candidato tucano em 2018. Também foi lembrada aos tucanos a delicada situação de Aécio no Conselho de Ética, dominado e presidido por peemedebistas.
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