O aprofundamento da crise do PSDB lança uma sombra sobre o futuro do governo do presidente Michel Temer e sobre a capacidade do partido se recuperar e voltar ao poder nas eleições presidenciais de 2018, mais de uma década e meia depois de deixar o Palácio do Planalto. Os tucanos, ave símbolo do partido que fez o Plano Real, quebrou monopólios e fez as privatizações, é que dão credibilidade ao atual governo junto à elite social, econômica e política do país. Eles deveriam em princípio representar esses valores na disputa eleitoral do próximo ano.
As dificuldades para se manter coeso e de obter consensos sobre temas um pouco mais espinhosos do cotidiano nacional, no entanto, são, desde 2002, obstáculos quase instransponíveis para o PSDB retomar o poder que perdeu para o PT nas urnas, e ao qual só conseguiu voltar agora de carona com o PMDB no impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Em 2002 como agora, o PSDB também chegou rachado à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso, após oito anos no Palácio do Planalto.
Os tucanos exibiram sua divisão, contida enquanto FHC estava no Palácio do Planalto, em praça pública. Nada mais constrangedor que a declaração do senador Tasso Jereissati (CE) - novamente protagonista do racha tucano - de abandonar o candidato oficial do partido, José Serra (SP), para apoiar a candidatura do conterrâneo Ciro Gomes, hoje no PDT e à época candidato a presidente da República pelo PPS.
Em 2006, Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, mediram forças até o fim pela candidatura do PSDB. Alckmin levou e foi massacrado por Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno da eleição, quando teve menos votos que na primeira rodada. Nada melhor para representar a divisão que o surgimento da chapa Lulécio em Minas Gerais, reunindo partidários das candidaturas de Lula à reeleição e do atual senador Aécio Neves (MG) ao governo do Estado. O fenômeno voltaria a se repetir em 2010, quando Serra, novamente candidato, foi definitivamente cristianizado pelo PSDB. Minas então contemplou o país com a chapa Dilmasia, que juntou PSDB e PT nas campanhas de Dilma para presidente e do senador Antonio Anastasia, candidato de Aécio ao Palácio da Liberdade.
Foram os anos da hegemonia eleitoral do PT. A expectativa de poder na eleição de 2014, quando Aécio Neves conseguiu ir para o segundo turno em 48 horas, ultrapassando Marina Silva (PSB) na reta final da disputa, teve o efeito de unir enfim os tucanos em torno de uma candidatura. Aécio perdeu por uma estreita margem de votos, mas continuou no imaginário do PSDB como o nome que poderia derrotar o PT em 2018. O restante da história é conhecido: os tucanos apoiaram o impeachment, entraram para o governo Temer e Aécio foi destroçado pelas investigações da Operação Lava-Jato, mas em vez de se afastar definitivamente, manteve-se licenciado na presidência do partido, origem de boa parte da confusão atual.
No governo, o PMDB entregou praticamente tudo o que prometeu em sua carta de intenções para o impeachment de Dilma, o programa "Ponte para o Futuro", mas o PSDB foi o seu fiador junto ao establishment. Os tucanos hoje não conseguem definir uma posição amplamente majoritária sobre a permanência no governo Temer - o desembarque, sem dúvida, vai enfraquecer o presidente e seu projeto de reformas - e no fundo têm dúvidas sobre a viabilidade eleitoral de Alckmin, estacionado na faixa de um dígito nas pesquisas. O PSDB era mais feliz quando a alternativa João Doria, atual prefeito de São Paulo, parecia capaz de arrebatar o país.
A menos de um ano da eleição, o PSDB está novamente preso à crônica divisão e sem uma saída à vista capaz de juntar todos em torno do projeto comum de voltar à Presidência. É certo que é cedo ainda para prognósticos mais precisos sobre a eleição de 2018. Na realidade, mais da metade do eleitorado brasileiro ainda não decidiu em quem votar e nem se sabe quais serão os nomes dos candidatos a presidente inscritos na urna eletrônica. Mas o PSDB, que voltou a crescer nas eleições municipais de 2016, graças à divisão e da falta de clareza sobre seus propósitos corre o risco de ser arrastado pela rajada de renovação na política em que pode se transformar a eleição de 2018.
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