Em convenção, governador desconversa sobre pressão para comandar o partido
Cleide Carvalho / O Globo
SÃO PAULO - A convenção estadual do PSDB em São Paulo, realizada ontem, serviu de palanque para as pretensões presidenciais do governador Geraldo Alckmin. Acompanhado por políticos de outros cinco partidos, o governador viu seu nome ser aclamado como candidato tucano à Presidência pelos correligionários paulistas. Enquanto seus aliados defendiam publicamente o afastamento do senador Aécio Neves do partido, Alckmin desconversava sobre a possibilidade de assumir o comando da sigla para apaziguar os ânimos, como defende o ex-presidente Fernando Henrique. Também presente ao evento de ontem, o presidente interino, Alberto Goldman, declarou que deve se reunir com líderes da legenda para debater uma candidatura única para o comando da sigla e o desembarque do governo de Michel Temer.
Ao discursar para a militância, na Assembleia Legislativa, Alckmin assumiu um discurso de candidato e falou sobre a necessidade de recolocar o Brasil no “rumo da eficiência e produtividade” e de impedir que o país caia no “populismo latino-americano”. Sobre o perfil ideal nas eleições de 2018, o governador afirmou:
— Temos que saber jogar o jogo do século 21. Devemos ser o Zé Ninguém a serviço de uma grande causa.
Alckmin disse que o PSDB precisará enfrentar o corporativismo estatal e privado e que a reforma da Previdência deve romper com privilégios, não ser apenas um ajuste fiscal.
Tido como um dos principais concorrentes de Alckmin pela candidatura tucana a presidente da República, o prefeito João Doria chegou à convenção estadual do PSDB junto com o governador e fez um discurso rápido em prol da unidade. Doria saiu antes do fim da cerimônia para ir ao GP Brasil de Fórmula 1 e não viu Alckmin ser ovacionado. Ao pedir palmas para Goldman — a quem já chamou de “improdutivo”, que “vive de pijama em sua casa” —, o prefeito sinalizou uma reaproximação com o presidente interino da legenda. Doria afirmou:
— Esta é a convenção da pacificação. É de São Paulo que sairá a força para vencer a eleição.
ALIADOS DE ALCKMIN CONTRA AÉCIO E TEMER
Alckmin não deu declaração incisiva sobre a decisão de Aécio de destituir o senador Tasso Jereissati da presidência do partido ou sobre o desembarque do governo Temer, mas seus aliados fizeram o serviço. Reconduzido à presidência do PSDB em São Paulo, o deputado estadual Pedro Tobias afirmou que Aécio não está “ajudando em nada”.
— Ele deveria colocar o pijama e voltar para a casa dele — afirmou Tobias.
O deputado estadual prometeu buscar apoio para Jereissati em outros estados. E também dirgiu-se a Alckmin, ressaltando sua importância:
— Geraldo, você é a pessoa que pode dirigir o PSDB. O partido está à beira da divisão e precisa de você — afirmou Tobias.
Doria, por sua vez, apoia o governador de Goiás, Marconi Perillo, para presidente do partido. O prefeito disse, no entanto, que colocar Alckmin no cargo “pode ser bom” se for em nome do “entendimento” entre todos. Aliados do governador defendem que Alckmin aceite o posto caso seja um nome de consenso entre os correligionários e não precise disputar a eleição. Na sexta, o ex-presidente Fernando Henrique já havia defendido o nome de Alckmin. Questionado sobre a possibilidade de assumir o partido, o governador desconversou:
— Temos dois pré-candidatos. Vamos aguardar. Essa é uma decisão coletiva.
Segundo Goldman, uma de suas tarefas na presidência interina do PSDB é chegar à convenção nacional do partido, em dezembro, com uma chapa única.
Antes da convenção, Goldman também pretende discutir a saída da sigla do governo de Michel Temer. Atualmente, o PSDB tem quatro ministérios no governo e enfrenta pressão, de parte dos seus quadros, pelo desembarque. Em artigo publicado pelo GLOBO na semana passada, FH escreveu que o partido deve deixar o governo para não correr o risco de ser coadjuvante em 2018.
Anteontem foi a vez de Aécio engrossar o coro, ao dizer que o PSDB deve sair do governo pela “porta da frente”, como entrou. O movimento acontece no momento em que outros aliados de Temer cobram os cargos dos tucanos para aprovar as reformas. Segundo Goldman, a discussão sobre o desembarque será ampla:
— Não temos caciques e coronéis, temos líderes.
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