Entrevista com Antonio Anastasia, senador (PSDB-MG)
Postulante tucano ao governo de Minas afirma que senador vai ouvir PSDB antes de decidir sobre disputa ao Senado
Pedro Venceslau e Jonathas Cotrim | O Estado de S. Paulo
BELO HORIZONTE - Pré-candidato ao governo de Minas Gerais, o senador Antonio Anastasia (PSDB) disse ao Estado que o senador Aécio Neves, seu padrinho político, vai ouvir o partido antes de decidir se vai disputar o Senado nas eleições 2018. Candidato à Presidência da República em 2014, Aécio se afastou dos antigos aliados depois que veio a público áudio em que ele pede R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono da JBS. Ele ainda não definiu seu futuro político.
• A prisão do ex-governador Eduardo Azeredo coloca o PSDB na vala comum da corrupção?
Ele sempre teve um conceito de um homem correto, mas tem de cumprir a pena. Não podemos adular as pessoas condenadas.
• É uma mancha que pode constranger o partido na eleição em Minas Gerais?
Não acho mancha, nem que constrange o partido. Azeredo é considerado uma pessoa que foi vítima de uma circunstância. E o candidato (ao governo de Minas) sou eu.
• Ele deve ser expulso do PSDB?
Não sinto o sentimento de necessidade dessa medida.
• O senador Aécio Neves ainda não decidiu se disputa ou não o Senado. Essa é mesmo uma decisão pessoal dele ou do partido?
Eu recebi uma carta branca para a montagem das questões relativas ao partido. Temos que aguardar um pouco. Ele vai tomar essa decisão, e não deve demorar muito, sobre ser candidato ou não. E, se for, para qual cargo. Os prazos estão afunilando.
• O sr. quer que ele seja mesmo candidato?
Nesse momento, ele próprio pondera sobre as dificuldades que teria em uma candidatura majoritária, do sim e do não. Mas temos que respeitar a decisão que ele tomar.
• Até o ex-governador Geraldo Alckmin, que preside o partido e tem a prerrogativa de vetar candidatos, deixou claro que não gostaria que Aécio disputasse o Senado.
Ele (Aécio) vai ouvir os companheiros na hora de tomar a decisão. Não tomará uma decisão isolada. Ele está dedicado à sua defesa e em mostrar o que foi alegado, que foi vítima de uma armadilha.
• Aécio se elegeria?
As pesquisas o colocam com uma votação positiva, mas em uma eleição a gente nunca sabe. Nem sei quem são os candidatos ao Senado. Há notícia de que Dilma (a presidente cassada Dilma Rousseff) seria candidata, mas isso não se confirma.
• Dilma mudou seu título eleitoral para Minas Gerais e é pré-candidata ao Senado. O PT também cogita lançá-la ao governo. O que significaria para o sr., que foi relator do impeachment, entrar em campanha contra ela?
Lembro muito na eleição para governador de Minas de 2014, o nosso candidato, o Pimenta da Veiga, foi muito acusado pelo PT com o argumento de que estaria ausente de Minas Gerais há oito ou dez anos. Ela (Dilma) está ausente há 40 anos. Não sei como o povo vai encarar isso. Não sei se é uma candidatura forte ou fraca. Não vejo muita alteração no quadro eleitoral por causa disso, a não ser para o próprio PT, que, em razão disso, perderia o apoio do MDB.
O sr. estava muito convicto de que não seria candidato ao governo. Foi um sacrifício pessoal entrar na disputa?
Não é nenhum segredo que não era meu intuito me candidatar nesse ano ao governo. Mas tivemos circunstâncias de natureza política e social que formaram uma grande corrente clamando por minha responsabilidade de participar do pleito. Também é importante para o Geraldo Alckmin (pré-candidato do partido à Presidência) ter um palanque em Minas.
• O PSDB perdeu em Minas Gerais em 2014, tendo Aécio como candidato. Por que com Alckmin, que é paulista, seria diferente?
Cada eleição é diferente da outra. Fernando Henrique (Cardoso) é paulista e ganhou duas eleições presidenciais seguidas em Minas Gerais. Acredito firmemente em uma vitória dele em Minas Gerais.
• Há um movimento com a participação do PSDB que tenta unificar o centro em uma só candidatura. Para isso, não é necessário que se admita que Alckmin pode não ser o candidato?
É uma tese. A essa altura, não há ninguém que vai aparecer do nada com 10% ou 12% (das intenções de voto). Entre os atuais candidatos no centro, dois nomes de destacam: Alckmin e Alvaro Dias (presidenciável do Podemos). Só que o Alvaro Dias é de um partido muito pequeno e sem estrutura. Alckmin é mais viável eleitoralmente.
• Dias seria o vice ideal?
Vejo com muita simpatia. Não sei se ele tem disposição para essa conversa.
• Por que Alckmin não decola nas pesquisas?
Vivemos um clima de radicalismo que chega às raias do ódio. Há uma pulverização de candidatos. E falta uma definição em São Paulo, que é o Estado dele. Lá tem duas candidaturas que o apoiam, o que cria dificuldade. Há ainda uma completa apatia. O próximo presidente precisa ter a personalidade da serenidade e tranquilidade. Vejo o Geraldo nessa pessoa.
• Como explica a força do ex-presidente Lula em Minas?
Ele tem muita força devido ao Bolsa Família e benefícios sociais que criou no seu tempo. Criou-se um imaginário de que só o Lula poderia ter dado isso.
• É mais importante criar pontes com o PT pensando nos votos úteis num eventual segundo turno das eleições ou disputar o antipetismo com Jair Bolsonaro, presidenciável do PSL?
Bolsonaro vai diminuir. Não acredito que vai ao segundo turno. Quando os debates avançarem, um candidato mais calmo tende a ter mais vantagem. Acredito em um segundo turno entre um candidato de centro e outro de esquerda, que tem muito voto.
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