A divulgação da forte queda do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio confirmou as piores expectativas do mercado. Considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), embora tenha fórmula de cálculo diferente, o IBC-Br interrompeu uma tendência de recuperação e teve queda de 3,34% na comparação com abril, afetado pela greve dos transportes rodoviários.
Antes mesmo do IBC-Br outros indicadores haviam dado sinais de reversão da tendência de recuperação. Primeiro foi a produção industrial, que caiu 10,9% na segunda maior retração da série, e voltou ao patamar de 15 anos atrás. As interrupções nas rodovias tiveram impacto variável conforme o tipo de indústria e sua dinâmica de processamento de matérias-primas e escoamento da produção. Mas a perspectiva do setor foi abalada. O crescimento da produção industrial, que estava acumulado em 4,5% no ano, em abril, foi cortado para 2%, em maio. Já se considera positivo se fechar o ano em 2,5%, repetindo o desempenho de 2017.
O comércio também foi abalado e teve a primeira queda do ano, em maio. As vendas do varejo ampliado, que inclui automóveis e material de construção, despencaram 4,9% em maio na comparação com abril, com o desabastecimento de mercadorias e dificuldades de circulação dos consumidores. Sem esses dois segmentos, o varejo restrito teve queda de 0,6%. No ano, a alta está acumulada em 6,3% no ampliado e em 3,2% no restrito. O choque de oferta teve impacto especial nos automóveis, combustíveis e lubrificantes, além de afetar os preços. O setor de supermercados é um dos poucos cujas vendas cresceram, apesar da dificuldade de abastecimento dos alimentos in natura, em parte por conta de um certo movimento de estocagem promovido pelos consumidores, preocupados com um prolongamento da escassez.
Os serviços escaparam do efeito negativo da greve dos caminhoneiros e tiveram recuo de 3,8%, o maior da série com ajuste sazonal, iniciada em janeiro de 2011, acumulando queda de 1,3% nos primeiros cinco meses do ano. A receita nominal dos serviços diminuiu 3,7% em maio, na comparação com abril, guardando ainda crescimento de 1,1% no acumulado do ano. Por esse motivo, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) piorou a projeção para o setor de queda de 0,9% para 1,3%.
Na verdade, não há consenso a respeito da consistência de uma recuperação da economia, tampouco de sua intensidade. O desempenho da economia em junho certamente ainda vai refletir em alguma medida os efeitos da greve. No varejo, por exemplo, o abastecimento retomou a normalidade lentamente. Diferentemente de outros setores, o de serviços pode não recuperar nem todo o espaço perdido. As mais recentes previsões do mercado financeiro capturadas pela Pesquisa Focus do Banco Central sinalizam crescimento do PIB neste ano de 1,5%, metade do que se previa em março. A revisão vem sendo feita rapidamente. Há um mês estava em 1,76%. O próprio Banco Central cortou sua expectativa de 3% para 1,6% e o Ministério da Fazenda sinalizou que deve fazer o mesmo nos próximos dias. No ano, a variação do IBC-Br está em 0,73%.
Cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) relatados pelo Valor (16/7) levantam a possibilidade de a economia levar mais quase três anos para voltar ao nível pré-crise, mais especificamente 11 trimestres, caso seja mantido o ritmo atual de crescimento. Se a previsão se confirmar será a recuperação mais demorada da história brasileira, para recuperar os 8,2% do PIB perdidos entre o terceiro trimestre de 2014 ao fim de 2016.
Depois da greve dos caminhoneiros, outros fatores contribuíram para tornar o cenário mais nebuloso. Um deles é a deterioração do quadro fiscal diante da certeza cada vez maior de que o governo e o Congresso não avançarão nas mínimas medidas de ajuste. Outro problema é a incerteza em torno das eleições e do compromisso do futuro presidente de fazer as reformas necessárias. Há ainda a situação internacional, desfavorável ao comércio e investimentos em mercados emergentes. Não por outro motivo, os indicadores de confiança dos empresários e consumidores emitem sinais negativos.
A persistente fraqueza do mercado de trabalho e estagnação do rendimento da população são outros motivos de pessimismo. Se a economia crescer realmente 1,5% neste ano, como prevê a Pesquisa Focus, ainda estará distante do nível anterior à recessão.
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