Paulo Celso Pereira | O Globo
Se o primeiro debate entre os presidenciáveis foi marcado pelas estripulias de Cabo Daciolo e o segundo, pela lição dada por Marina Silva em Jair Bolsonaro, o terceiro encontro, ontem, na TV Gazeta, tende a desaparecer em breve da memória dos telespectadores. Diante do atentado contra o líder das pesquisas, os seis participantes adotaram tom moderado, e o mais palpitante que se viu foram algumas poucas e leves alfinetadas.
As três ausências do palco evocavam o nonsense da corrida eleitoral a 28 dias do pleito: Bolsonaro não compareceu, pois ainda convalesce da facada que tomou; o PT não participou, por ainda não ter lançado o candidato que substituirá Lula, preso e barrado pela lei da Ficha Limpa; e Daciolo informou que não poderia ir pois, neste momento, está em jejum e orações.
A principal novidade do encontro foram as recorrentes alfinetadas de Henrique Meirelles em Geraldo Alckmin. Disputando o eleitorado tradicionalmente alinhado aos tucanos, o ex-ministro da Fazenda abriu o programa questionando a sinceridade do ex-governador de São Paulo em relação à ideia de pacificação política, já que sua campanha manteve ataques a Bolsonaro. Mais tarde, Meirelles voltou a tentar encurralá-lo questionando a expansão do domínio das facções criminosas paulistas pelo país.
Em geral, as narrativas construídas pelos seis candidatos nas primeiras semanas de campanha foram repetidas. Alckmin manteve a estratégia de apontar programas adotados em São Paulo como referência do que pretende implantar no resto do país. Ciro Gomes fez, sempre que possível, algo semelhante, defendendo experiências de sucesso no Ceará, e retomou também o discurso contra o “baronato” financeiro.
Nessa seara, no entanto, Guilherme Boulos sobressaiu. Provocativo, foi autor da melhor tirada da noite. Focado em Meirelles, qualificou-o como “banqueiro” e aproveitou o slogan de campanha do emedebista para dizer que, em vez de “chamar o Meirelles”, iria “taxar o Meirelles”.
Álvaro Dias manteve a já batida linha de defesa da Operação Lava-Jato —e só. Em sua terceira eleição presidencial consecutiva, Marina Silva, por sua vez, voltou a adotar o discurso de que PT e PSDB são faces do mesmo sistema político, que é preciso romper com esse modelo, e disse estar novamente acompanhada dos “melhores” pensadores.
Após pouco mais de duas horas de programa, o que ficou na memória de quem assistiu ao debate foi o chamado à pacificação política e o repúdio, com nuances distintas, ao ataque a Bolsonaro. Nada mais.
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