- Folha de S. Paulo
Não é possível cravar uma resposta definitiva, porque atentados a candidatos são raros
A Bolsa de Valores subiu quando Bolsonaro levou uma facada. Não foi porque os investidores torcessem pela morte do candidato do PSL –as notícias iniciais eram de que o ferimento havia sido superficial. Na verdade, torciam para que a simpatia popular pela vítima ajudasse Bolsonaro a vencer a eleição.
Estavam certos? A facada vai render votos a Bolsonaro?
Não é possível cravar uma resposta definitiva, porque atentados a candidatos são raros, e é difícil isolar, em cada caso, o que nos resultados eleitorais foi ou não foi causado pelo atentado.
Minhas suspeitas são as seguintes:
Em primeiro lugar, não vejo como uma onda de simpatia causada pelo atentado seja grande no caso de Bolsonaro, um candidato cuja rejeição é imensa.
Acho difícil que um eleitor que responde “não votaria de jeito nenhum em Bolsonaro” de repente pense “opa, ele levou uma facada, seu programa econômico e sua atitude diante das mulheres subitamente me parecem muito melhores”.
Para isso acontecer, o eleitor terá que ter deixado que a emoção do momento seja muito mais forte do que o cálculo econômico e/ou o julgamento de valor que o haviam levado a rejeitar Bolsonaro anteriormente. Isso seria bastante surpreendente. O eleitor é racional.
Uma eventual onda de simpatia pode, sim, levar Bolsonaro a ganhar alguns pontos nas pesquisas, mas não acho que vai levantar o teto imposto por sua taxa de rejeição.
Em segundo lugar, não acredito que qualquer ganho de curto prazo gerado por empatia seja durável. A comoção do atentado não deve durar um mês.
O argumento da empatia também foi enfraquecido pela atitude de extrema radicalização adotada pelo campo bolsonarista após o atentado. Mourão, Janaina Paschoal, Silas Malafaia e Magno Malta mentiram que o autor do atentado era petista. O presidente do PSL declarou que “agora é guerra”.
E Mourão foi na GloboNews no dia seguinte ao atentado dizer que o presidente da República (cargo que pode ser de Bolsonaro, ou de Mourão) é quem decide sobre a conveniência de fechar as instituições democráticas (dar um “autogolpe”).
Em resumo, acho que empatia não vira muitos votos, os que virarem depois voltam, e que qualquer efeito da empatia tende a ser compensado pelo efeito negativo do extremismo bolsonarista.
Há, entretanto, um outro argumento que prevê vantagens para Bolsonaro no pós-atentado: até agora, quanto mais Bolsonaro foi exposto ao público (nos debates, por exemplo), mais sua rejeição subiu.
Hospitalizado, sua exposição será menor. Não poderá ser acusado de covardia por faltar aos debates.
Esse argumento é bem melhor do que a tese da empatia. Mas também não acho que seja o caso de apostar muito dinheiro nisso.
Bolsonaro sempre foi uma cortina de memes escondendo o autoritarismo de Mourão e o liberalismo extremo de Paulo Guedes. Agora vão os dois para o centro do palco.
Sem o stand-up politicamente incorreto do cabeça de chapa, o mesmo fascismo parece bem menos atraente quando exposto claramente por Mourão. Fica bem mais claro que o jovem que votar em Bolsonaro pode perder o direito de dar sua opinião por 20 anos, como já aconteceu no Brasil.
E se o mercado acha que as propostas de Guedes renderão votos, está explicado por que o PT sempre ganha esse negócio.
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Celso Rocha de Barros, servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra)
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