Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
BRASÍLIA - Os partidos da Câmara dos Deputados discutem a formação de um "blocão" parlamentar sem a presença de PT e PSL para disputar o comanda da Casa, os cargos na Mesa Diretora e as presidências das comissões. Se isso se concretizar, os dois partidos - que serão os maiores da próxima legislatura - perderiam influência nas negociações na Câmara.
O "blocão", que passou a ser discutido mais a sério num jantar na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anteontem, juntaria do PCdoB e PDT ao PSDB e DEM, passando por todos os partidos do "Centrão" (PP, PR, PRB, PSD e MDB).
Formalmente, deputados dizem que PT e PSL também serão convidados a integrar o grupo, mas que a tendência é que "os extremos" se recusem a participar de uma aliança com o adversário, mesmo que apenas para divisão dos postos na Câmara. O PSL já disse que pretende "tratorar" a oposição e que não pretende manter diálogo com PT e PCdoB.
"Não estamos discutindo valores, princípios. Estamos discutindo procedimentos de convivência aqui na Casa", afirmou o líder do PSB na Câmara, deputado Tadeu Alencar (PE). "O bloco é para um momento específico, a eleição da mesa. Depois se desfaz", completou. As conversas foram confirmadas por outros cinco líderes e presidentes de partidos.
Se o bloco se confirmar com a exclusão dos dois partidos, o PSL ficaria sem os principais cargos na Mesa Diretora da Câmara e sem o comando das comissões mais importantes, como a de Constituição e Justiça (CCJ) e a de Finanças e Tributação (CFT). Dentro do Centrão, a negociação é vista como uma mostra para o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) de que ele não pode prescindir dos partidos para governar. Já entre as siglas de oposição, seria a possibilidade de isolar o PT e ganhar mais espaço.
Maia minimizou as conversas ao Valor. "É papo furado. A eleição está muito longe", disse. Ele tomará um café da manhã com Bolsonaro hoje. O presidente da Câmara tenta se reeleger e conversa com todos os partidos, mas tem no apoio da oposição, que contará com cerca de 140 votos, uma de suas principais forças. O número, avaliam deputados, deve colocá-lo pelo menos no segundo turno da eleição.
A boa relação com a oposição, por outro lado, faz deputados do PSL trabalharem contra ele. A bancada, que terá pelo menos 52 deputados a partir de fevereiro, está dividida entre dois candidatos: João Campos (PRB-GO), ex-presidente da bancada ruralista, e capitão Augusto Rosa (PR-SP), que assumirá a coordenação da bancada da bala no fim do ano e conta com apoio dos policiais e militares.
"Alguém que enterra duas vezes a CPI da UNE [União Nacional dos Estudantes] e joga junto com o PCdoB não terá nosso apoio", disse a deputada eleita Bia Kicis (DF), que está de mudança do PRP para o PSL. "O Rodrigo Maia é uma sinalização muito ruim para a população. Lógico que ele tem uma capacidade de articulação muito grande, mas pode ser outro com experiência e que não tenha vínculo com a velha política tão patente", disse o deputado eleito Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP).
Outro problema para Maia é o número de ministros do DEM no governo. "Se o Bolsonaro escolher mais um do DEM pode jogar a toalha", diz um aliado de Maia.
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