Com passagens em cargos públicos, novo presidente do banco tem papel a cumprir no ajuste fiscal
Há altos servidores públicos, funcionários ou não de carreira, que cumprem longas trajetórias em cargos técnicos no Estado. Mas nenhum rivaliza com o ecletismo e a frequência com que Joaquim Levy é convocado por governantes. Agora, por Jair Bolsonaro para presidir o BNDES. Secretário do Tesouro no primeiro governo Lula, na equipe do ministro Palocci, com Meirelles presidente do Banco Central, Levy participou do trabalho “neoliberal” que conteve a crise de 2003 deflagrada pela própria chegada do PT ao Planalto.
Secretário de Fazenda do emedebista Sérgio Cabral, ajustou as contas do Rio de Janeiro, e voltou a um governo petista, de Dilma, quando ela decidiu recuar, no segundo mandato, na destruição fiscal que promovera. Mas não deu tempo.
A missão de Levy no BNDES não parece tão desafiadora, mas nem por isso é desimportante. Bancado pelo futuro superministro Paulo Guedes e também, como este, pós-graduado pela Universidade de Chicago, referência no pensamento econômico liberal, Joaquim Levy serve de garantia de que o banco não será usado como instrumento de nacionalistas ativistas do desenvolvimento. Mesmo que, no Brasil, esta corrente, que esteve no poder com o lulopetismo, também tenha simpatizantes no meio militar do próximo presidente da República.
Além de tudo, o BNDES é peça-chave no ajuste fiscal por que passa o país, e não apenas na devolução ao Tesouro de parte do meio trilhão de reais proveniente de dívida pública que Dilma Rousseff, de forma irresponsável, injetou no banco. Constituiu-se uma das manobras decisivas para o país mergulhar na crise fiscal. Já foram estornados, este ano, R$ 130 bilhões, providencial ajuda para conter o déficit primário.
Parcela daquela dinheirama destinou-se a subsidiar empréstimos gigantescos a “campeões nacionais”, num programa também usado pelo lulopetismo para ordenhar dinheiro abundante de financiamento de campanha por caixa 2. Terminou em prisões. Os irmãos Batista (JBS) que o digam.
Levy desinflará ainda mais o banco, criado por Vargas em 1952 para sustentar a industrialização brasileira. Tem seu mérito, mas serviu para também cavar rombos no Tesouro, com o devido custo transferido ao contribuinte. Ao menos a redução do subsídio creditício, permitida pela queda da inflação e a troca da taxa de financiamento de longo prazo (sai a TJLP e entra a TLP), conduzidas pelo Banco Central de Ilan Goldfajn, são garantias de que o desregramento pode não voltar. Enquanto se estimula a participação de instituições financeiras privadas neste segmento de crédito.
Outra boa notícia é que o banco, na era Bolsonaro, reativará seu papel de promotor de privatizações, em que se especializou nas gestões Collor e Fernando Henrique. E nisso também não começará do zero, bem como no apoio a projetos de infraestrutura e logística, grande carência do Brasil. Mas terá de resistir ao lobby da indústria, entrincheirado na Fiesp, viciada em subsídios e barreiras protecionistas.
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