Ernesto Araújo, novo ministro das Relações Exteriores, apresenta suas convicções sem recuos
Frustraram-se aqueles que esperavam alguma moderação do discurso de Ernesto Araújo ao ser empossado no Itamaraty.
Na cerimônia de transmissão de cargo, na quarta (2), o novo chanceler apresentou suas convicções sem recuos, mas pouco explicou como pretende concretizá-las —e de que maneira agirá diante das prováveis fricções decorrentes de sua visão de política externa.
No centro desta reside o combate obcecado à “ordem global” e ao“globalismo”, termos empregados em conjunto por 14 vezes em sua fala inaugural. Na definição do ministro, trata-se do “ódio através de suas várias ramificações ideológicas e seus instrumentos contrários à nação, à natureza humana e ao próprio nascimento humano”.
Araújo entende, pois, que é preciso estar ao lado dos que “lutam pela sua pátria”. Não por acaso, todos os países citados nessa categoria têm governos de direita, posto que o globalismo seria um fenômeno de feições socialistas, regido pelo “marxismo cultural”, a ameaçar valores cristãos ocidentais.
São tidos como exemplos dessa resistência os Estados Unidos sob Donald Trump e Israel, aos quais o governo de Jair Bolsonaro (PSL) expressa de modo recorrente a intenção de se alinhar. No arco nacionalista figuram ainda Itália, Hungria e Polônia —estes dois últimos em franca escalada autoritária por parte de seus governantes.
Tal guinada na condução do Itamaraty decerto implicará consequências em relação a parceiros comerciais importantes. A começar pelo maior deles, a China, cuja reação se desconhece no caso de o Brasil tomar partido dos EUA em disputas entre as duas potências. Mostrará Araújo a necessária ponderação em um cenário como esse?
Já nesta sexta (4) o ministro terá a oportunidade de atuar na prática. O Grupo de Lima, que reúne 14 países, discute possíveis sanções ao regime de Nicolás Maduro.
Espera-se que Araújo lidere um movimento para sufocar o ditador da Venezuela, dada sua aversão aos líderes ditos bolivarianos —recorde-se que o convite a Maduro para a posse de Bolsonaro foi retirado.
Para tanto, porém, o chanceler precisará deixar de lado a retórica e se valer do pragmatismo para convencer países da região que ainda resistem a endurecer com Caracas, como Uruguai e Bolívia.
Chamou a atenção, aliás, a presença em Brasília, no dia 1º, do presidente boliviano, Evo Morales. Outrora entusiasta do bolivarianismo, ele priorizou a relação com o Brasil e não foi desconvidado —alguma mostra de razoabilidade por parte do novo Itamaraty.
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