- Folha de S. Paulo
Articulação política, no curto prazo, e investigações no Rio, no longo, são os principais pontos críticos
A possibilidade de vitória de Renan Calheiros para presidir o Senado estava em desacordo com tudo o que ocorre na política brasileira desde outubro. Ninguém deveria ficar surpreso com o resultado final, que acabou por atropelar a raposa emedebista.
A ascensão do jovem Davi Alcolumbre fecha um ciclo de definições institucionais coerentes com a voz das urnas. A agenda conservadora nos costumes e liberal na economia encontra no Executivo e no Legislativo um substrato favorável para vicejar, algo que nunca havia acontecido em 30 anos de regime constitucional democrático.
O governo confirma-se forte na largada. No curto prazo, a estrutura da articulação parlamentar, dividida entre um general de poucas palavras e um falastrão de pouco lastro, torna-se o principal ponto crítico. A negociação da reforma da Previdência na Câmara testará a fortaleza dessa configuração.
Paulo Guedes parece o jejuno em administração pública e artimanhas brasilienses que mais depressa avança na curva de aprendizado. Montou sob a sua alçada um mecanismo próprio de negociação com o Congresso, cujo pivô é o ex-deputado Rogério Marinho.
O ministro da Economia terá a faca e o queijo, pois também controla a execução orçamentária da União, a moeda mais efetiva para lidar com os congressistas. Enquanto isso, abranda o ritmo da abertura externa, para não perder votos na reforma, e estreita relações com o TCU, para catalisar o programa de venda de patrimônio federal.
No longo prazo, as investigações sobre o que os Bolsonaros faziam no Rio enquanto eram insignificantes na política nacional prometem ser o principal obstáculo à governabilidade. A relação com milícias tende a ficar paulatinamente estabelecida.
Será interessante notar como reagirão os militares e o ministro Sergio Moro caso essa evolução se efetive. Como tem sido regra desde 2013 no Brasil, não faltará emoção.
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