Massacre em escola estadual na Grande São Paulo deixa dez mortos e nove feridos
Além de chocar o país, o massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, que deixou dez mortos e nove feridos ontem de manhã, põe em xeque a facilitação do acesso a armas, num momento em que o governo Jair Bolsonaro desidrata o já anêmico Estatuto do Desarmamento.
Em janeiro, um dos primeiros decretos do novo governo flexibilizou a posse de armas, reiterando promessa de campanha de Bolsonaro e atendendo a uma reivindicação da bancada da bala. A intenção é afrouxar também o controle sobre o porte, matéria que, no entanto, tem de passar pelo Congresso. Hoje, para obtê-lo, é preciso demonstrar a efetiva necessidade pelo exercício profissional (como no caso das Forças Armadas, polícias e agentes de segurança) ou risco à integridade física.
Ainda há questões a serem respondidas na tragédia de Suzano. Por enquanto, sabe-se que dois ex-alunos, Luiz Henrique Castro, de 25 anos, e Guilherme Tauci Monteiro, de 17, invadiram a escola e mataram duas funcionárias e cinco estudantes. Com a chegada da polícia, os dois se suicidaram. Antes, eles tinham passado numa locadora de automóveis, onde balearam o proprietário e roubaram um carro. A dupla portava um revólver 38 mm com numeração raspada, um machado e uma besta (arma antiga, em forma de arco).
O ataque na Raul Brasil repete um modelo recorrente nos Estados Unidos, onde, segundo reportagem da GloboNews, em média ocorrem dez incidentes a tiros em escolas a cada ano. Mas não chega a ser fato inédito no Brasil. Em 2011, Wellington Menezes invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do Rio, matou a tiros 12 crianças e feriu dez. Em 2017, em Goiânia, um aluno matou dois colegas e feriu quatro no Colégio Goyases. Usou uma pistola .40 que pertencia à mãe, policial militar.
Em São Paulo, em novembro de 1999, um jovem atirou contra espectadores que assistiam ao filme “O clube da luta” num cinema do Shopping Morumbi. De posse de uma submetralhadora, matou três e feriu quatro. Em dezembro do ano passado, Euler Grandolpho invadiu a Catedral de Campinas e disparou contra as pessoas que assistiam à missa, matando cinco e ferindo três. O atirador se suicidou.
Esses crimes, em geral, têm motivações distintas, e a questão não passa só pela segurança, ela é multidisciplinar. Num mundo globalizado, não é raro que episódios externos sirvam de inspiração para esses atiradores. Porém, o que se pode dizer é que, sem armas de fogo, muitas dessas tragédias não seriam consumadas. Portanto, cabe ao Congresso se debruçar sobre o assunto, de modo a impedir o avanço da flexibilização. E, à sociedade, refletir se é esse modelo trágico que ela quer para o país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário