- O Globo
Nada será como antes no Judiciário, no Ministério Público e, sobretudo, na Operação Lava-Jato.
É, no mínimo, imprudente relativizar as revelações (não desmentidas) dos repórteres Rafael Martins, Leandro Demori, Alexandre de Santi, Victor Pougy e Glenn Greenwald sobre a cooperação entre o ex-juiz Sergio Moro, ministro da Justiça, e os procuradores da Lava-Jato em Curitiba.
As consequências tendem a ser mais amplas do que eventuais sanções individuais — eles são suspeitos de delitos contra a Constituição (Art. 5º, LIV e LV; art. 95, parágrafo único, III; e art. 128, §5º, II); o Código Penal (Arts. 319 e 321); o Código de Processo Penal (Art. 254, IV e art. 564, I); a Lei Complementar nº 35 (Art. 26, II, c, e art. 35, I e VIII); e a Lei 8.625/93 (Art. 43, I, II, VII, VIII e art. 44, V), segundo integrantes do Instituto de Advogados do Brasil.
Está se abrindo um novo ciclo na liquefação política brasileira, o da exposição de iniciativas que corrompem a confiança em todo o sistema judicial. Só não vê quem não quer.
Avança-se numa reversão de expectativas sobre a credibilidade do Judiciário e do Ministério Público. Já era perceptível nas propostas de CPI Lava-Toga e de impeachment de juízes de tribunais superiores.
Descrições da cooperação entre o juiz Moro e procuradores condimentam esse processo. De um lado, induzem a um tipo de reflexão individual: ninguém gostaria de ser julgado por um juiz aliado da parte adversária. De outro, reforça a vitimização de Lula, condenado e preso por corrupção.
Por ironia da história, instituições que durante cinco anos atuaram para atenuar a contaminação do Executivo e do Legislativo começam a ser expostas como contaminadas, e passíveis de desconfiança.
Assiste-se ao início de um julgamento da Operação Lava-Jato e, também, de todo o sistema formatado pela Constituição na organização e separação dos Poderes. O modelo que está aí faliu, como se vê nas coreografias de juízes, promotores, procuradores e advogados, ou de ministros de tribunais superiores nos bastidores do governo e do Legislativo.
Vai ser preciso reinventar, reorganizar os Poderes. Pode ser tarefa política adiável, mas é inevitável.
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