- O Globo
Enquanto os cariocas recebem água suja, o governador Wilson Witzel passa férias em Orlando. Ele é responsável pela crise da Cedae, loteada para o Pastor Everaldo
Há cinco anos, o então secretário de Ambiente do Rio mergulhou na Baía de Guanabara diante das câmeras. André Corrêa queria provar que a água poluída não seria um risco para as Olimpíadas. Os atletas sobreviveram, mas tiveram que desviar do lixo durante as regatas.
Ontem o presidente da Cedae praticou outro ato de bravura: tomou um copo d’água diante de jornalistas. Hélio Cabral disse que em casa só bebe água da torneira. Se for verdade, ele deveria abrir as portas para os clientes da companhia que dirige.
Há duas semanas, moradores do Rio e da Baixada Fluminense recebem uma água turva, malcheirosa e com gosto de terra. A Cedae alega que não há risco à saúde, mas os casos de mal-estar se multiplicam. Na dúvida, a população tem corrido aos supermercados para comprar e estocar água mineral.
Diante da crise, o Palácio Guanabara adotou a tática do avestruz. Fã da Disney, o governador Wilson Witzel não quis interromper as férias em Orlando. Depois de 12 dias de silêncio, tuitou que os transtornos causados pela Cedae são “inadmissíveis”.
O governador afirmou ter ordenado uma “apuração rigorosa tanto da qualidade da água quanto dos processos de gestão da companhia”. Acrescentou que “o consumidor não pode ser prejudicado”.
Para dizer isso, era melhor continuar calado. O prejuízo ao consumidor já se arrasta há 13 dias, e o responsável pela má gestão da Cedae é o próprio Witzel. Ele prometeu acabar com a “política do compadrio”, mas entregou a Cedae a indicados do Pastor Everaldo, que afastaram mais de 50 servidores de carreira.
O poderoso chefão do PSC é uma figura notória na política fluminense. Amigo de Eduardo Cunha, ele emergiu como eminência parda nos governos do casal Garotinho. Em 2014, candidatou-se ao Planalto. Teve menos de 1% dos votos e foi acusado de receber propina para proteger Aécio Neves nos debates.
Na terça-feira, a Cedae afastou o chefe da estação de tratamento do Rio Guandu, um servidor com 30 anos na empresa. De todos os personagens da crise, devia ser o menos culpado pela água suja.
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