- Folha de S. Paulo
Ministra Damares quer ser a mãe dos mais carentes entre os pobres e remediados
Damares Alves é uma das duas mulheres no primeiro escalão de um governo de homens brancos de meia idade. Ocupa a segunda posição entre os ministros mais bem avaliados de Jair Bolsonaro, depois de Sergio Moro —de longe o mais conhecido e popular.
Segundo pesquisa Datafolha de dezembro passado, dos 55% que disseram saber de quem se tratava, 43% consideravam a ministra ótima ou boa, o dobro daqueles que lhe atribuíram conceito ruim ou péssimo. Entre os seus admiradores não há diferença entre sexos.
Ela é bem-vista igualmente por pessoas de diferentes faixas de idade; apenas junto aos mais jovens seu prestígio é menor. Situa-se acima da média entre os entrevistados com educação fundamental e média. Cai, porém, na parcela de nível universitário.
À exceção dos mais ricos, que recebem de dez salários mínimos para cima, a porcentagem dos que lhe dão nota ótima ou boa é constante. Não por acaso, talvez, são do Sul os brasileiros que a aprovam com mais entusiasmo, e do Nordeste os mais reticentes.
A apoio à ministra é significativamente maior entre os evangélicos e entre os apoiadores de partidos de direita e de centro —mas quase 30% dos que dizem simpatizar com o PT também a consideram ótima ou boa. Sua base de apoio parece mais disseminada e popular que a dos outros ministros e do próprio presidente, cujo núcleo duro se compõe de homens moradores da região Sul, de renda alta e educação superior.
Que ninguém imagine que ela mira os próprios pés com a sua conduta às vezes bizarra, com suas frases estapafúrdias ou com suas propostas de políticas que desafiam o bom senso, a experiência acumulada e os conhecimentos disponíveis. Damares sabe para quem fala.
Na sua conta de Twitter se apresenta como mãe, pastora evangélica, educadora e advogada. Reacionárias, mas estridentemente antirracistas, suas falas se dirigem às emoções de um contingente —decerto vasto— de brasileiras e brasileiros de origem popular e inclinação conservadora.
Une-os a sensação compartilhada de insegurança e desordem cotidianas: na vida familiar, nas escolas, nos espaços públicos —e no distante mundo da política. Desconfiados de quase tudo, buscam ordem, conforto e amparo concreto nos cultos religiosos. Esses sentimentos foram captados no importante estudo de 2018 “O conservadorismo e as questões sociais”, da Fundação Tide Setúbal.
Damares Alves quer ser a mãe dos mais carentes entre os pobres e remediados; severa, mas cuidando de suas aflições. É sem dúvida uma estrela do novo elenco de políticos de extrema direita que vai se afirmando em nossa deplorável cena política.
*Maria Hermínia Tavares, professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap
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