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Sob o freio dos militares e da conjuntura
Até quando os generais que cercam Jair Bolsonaro conseguirão impedir que ele detone novas crises como vinha fazendo com regularidade ao longo dos últimos meses? E até quando o ex-capitão, expulso do Exército por planejar atentados a bomba em quarteis, manterá sob controle seus instintos mais primitivos?
Não deve estar sendo fácil para ninguém – nem para os militares que transformaram o Palácio do Planalto num puxadinho do Quartel-General do Exército a pouca distância, nem para um presidente que já proclamou muitas vezes que é ele quem manda. Um dia desses, chegou a dizer que a Constituição era ele.
Sem saber, uma vez que é reconhecidamente ignorante e não gosta de livros porque eles contém “muitas letrinhas”, Bolsonaro lembrou Luiz XIV, Rei da França e de Navarra entre 1638-1715, a quem se atribui a frase famosa: “O Estado sou eu”. Luiz XIV governou 72 anos. Luiz XVI foi deposto e guilhotinado em Paris.
Os porta-vozes informais de Bolsonaro sugerem que ele amadureceu e está disposto a cumprir a Constituição tal como disse que o faria ao se eleger e ao tomar posse. Só não explicam porque ele a afrontou toda vez que pode. Negam que a mudança de comportamento se deva apenas à conjuntura difícil que enfrenta.
Devagar com o andor… A conjuntura é que impõe limites a Bolsonaro, e a pressão redobrada que os militares voltaram a exercer sobre ele. Descarte-se a ameaça que teriam feito de abandoná-lo porque seu verdadeiro propósito é mantê-lo onde está até o fim do mandato e, se possível, por mais quatro anos.
Na verdade, a conjunção de más notícias foi que levou Bolsonaro nas últimas semanas a tentar parecer o que não é. Ouviu o tropel da cavalaria – o cerco judicial a ele e aos filhos, o eclipse do plano de reformas do ministro da Economia, a prisão de Queiroz e o peso da tragédia do Covid-19 que se recusou a enxergar.
E então se acautelou porque outra saída, por ora, não tem. Se será capaz de resistir à tentação de atravessar a rua para pisar em uma casca de banana, não se sabe. Contraria sua natureza não fazê-lo. Se mais adiante, caso se sinta forte, se conservará mesmo assim cauteloso, é porque teria finalmente aprendido alguma coisa.
Não há porque lhe conceder crédito de confiança desde já. O estrago que causou ao país até aqui ficará para sempre registrado na lápide dos que morreram por sua incúria e na memória dos que sobreviveram. A buscar-se algum conforto, só a certeza de que, como o vírus, ele também passará. Quanto mais cedo, melhor.
Decotelli balança, balança, e pode cair
As atribulações do falso doutor
O professor Carlos Alberto Decotelli levou uma forte pancada quando se descobriu que ele não era doutor pela Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, como informava seu currículo oficial divulgado no dia que foi nomeado ministro da Educação.
E antes que conseguisse se reequilibrar no cargo, levou uma segunda pancada igualmente forte ao se tornar pública a suspeita de que parte de sua tese de mestrado foi plagiada. A Fundação Getúlio Vargas, onde ele fez o mestrado, abriu inquérito a respeito.
Desde então está cai, não cai, segundo a edição mais recente do TAG REPORT, das jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros. Os militares, de dentro e de fora do governo que apoiaram sua indicação, estão revoltados com o professor.
O padrinho da indicação, o ministro Paulo Guedes, da Economia, ficou constrangido. Conhecia Decotelli desde que os dois trabalharam juntos no mercado financeiro. Guedes queria ver pelas costas o ex-ministro Abraham Weintraub.
Filhos do presidente Jair Bolsonaro e deputados que compartilham suas ideias alimentam a esperança de derrubar Decotelli para pôr no seu lugar um nome mais afinado com eles. Acusam-no de tentar manter no ministério antigos aliados do PT.
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