- O Estado de S.Paulo
Quero abrir uma seita, igreja, quero dízimos, não quero pagar nada,
imposto, boleto
Enquanto
Roma ardia em pavoroso incêndio, Nero tocava lira ou outro instrumento. Como
saber? Agora, enquanto o Pantanal arde e a Amazônia segue o mesmo caminho,
Bolsonaro toca o quê? Nada. Não toca nem o governo. Cuidado, não mostrem
ignorância confundindo Amazônia com Mata Atlântica nem com o Parque do
Ibirapuera, Zona da Mata, Cerrado Brasiliense ou Floresta da Tijuca como faz o
inescrutável Ricardo Boiada que Passa. Passa um, passa dois, passa três, passa
quatro, passa cinco, passa seis.
E
passando, passando pode até passar a Damares para dentro do Supremo Tribunal
Federal, este que não chove nem molha em relação ao foro privilegiado de Flávio
Rachadinha, filho amado. Imaginemos Damares junto com o Fux e o Toffoli
Bolsonaro Nunca Praticou Qualquer Ato Antidemocrático. Periga de vir também o
Mendonça, habilmente desenhado por Mario Sergio Conti como protótipo de nazista
gestapo cristão.
Ardem
as matas, ardem as mentes, arde meu coração nesta primavera em que um dia é
quente, o outro gelado, semelhante a Bolsonaro e suas decisões, um dia diz, no
outro desdiz, diz que não disse, rejeita o dito, o que foi dito não é
confirmado. O homem acusa o palerma do Guedes, que suporta em nome do quê? Qual
a ambição deste que leu Keynes no original?
Disse.
Não disse. Claro que disse. Quando criança lá em Araraquara, quando você dizia
e não sustentava era definido por uma palavra que hoje faz parte do
politicamente incorreto, mas vou citar: mariquinha. Roma ardia, Nero tocava
lira, romanos morriam sob o fogo, mas também eram mortos na arena, comidos por
leões, hienas ou crucificados assim como agora somos cancelados pelas redes.
Bolsonaro solta rajadas de tiros, enquanto aposentados morrem à medida que seus
vencimentos vão minguando, idosos fenecem porque não fazem falta nenhuma, os
carentes, os indigentes, os deficientes, os índios, os negros morrem porque,
como dizia Josef Mengele, não contribuem com nada para a pureza da raça.
Por
que não impichamos Bolsonaro, colocando em seu lugar o embaixador
norte-americano? Os mais velhos se lembram da frase que correu o País na década
de 60: “Eliminemos os intermediários, Lincoln Gordon para presidente do
Brasil”. Passadas décadas, não elegemos Gordon, mas elegemos um comandatário,
vassalo, flâmulo, varlete, armígero, colomim, mirmidão, I Love You Trump. De
onde vieram as ideologias dele? Do astrólogo Olavo de Carvalho, de Steve Bannon
agora na prisão como corrupto, de Ryan Hartwig com seu Projeto Veritas que
andou aqui pelo Brasil.
Olhando
o cenário, o que vemos? Trump pede uma base militar e o Brasil dá. Em troca de
quê? De uma banana. Trump pede que os EUA nos mandem etanol sem tarifas, o
Brasil concorda, esperando que o indicado para o BID seja um brasileiro. Trump
nem ouviu, c... e andou, como se diz. Nomeou um dele. Trump determinou que a
cloroquina era o medicamento, compramos, e ainda produzimos bilhões de
comprimidos, que formariam uma montanha do tamanho do Pão de Açúcar. Ou do Dedo
de Deus, já que Deus está acima desta lesa-pátria. Única reação que o Brasil
teve foi mandar Weintraub para desmoralizar o Banco Mundial. Por que não
elegemos Melania Trump para presidente do Brasil? Seria nossa segunda mulher
presidente. Ligação direta. Finais de semana no condomínio da Barra cercado de
seguranças milicianos. Ou nos campos de golfe de Trump. Será que teríamos de
fazer depósitos em dólares na conta de Melania? Inexplicados 89 mil dólares que
o Guedes pagaria?
Sabem
por que não temos ainda embaixador nomeado nos Estados Unidos? Por que não
precisamos. As ordens vêm por um telefone direto ou por e-mails redigidos pelos
01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 0120, 0 mil, 0 um milhão, 0 milhões e
milhões que puseram esse homem no poder.
Ardeu
Roma, arde a Califórnia, ardem os Estados Unidos, arde minha cabeça, queima meu
coração, arde a Hungria, arde Belarus, os nossos mortos decresceram, mas
voltaram a subir, todo mundo aglomerado nas ruas, bares, praias, baladeiros ao
sol, felizes, roleta-cloroquina, se o outro vai morrer que me importa? 2022 vai
chegar, a grande questão é saber quem estará vivo para votar.
Estou
dando entrada na Associação Comercial ao meu pedido de abertura de uma seita,
uma igreja, quero dízimos, muitos dízimos, não quero pagar nada, imposto, taxa,
boleto. Passa boi, passa boiada. A democracia começa a arder, ardem nossos
corações e mentes. Não nos calemos.
*É jornalista e escritor, autor de ‘Zero’ e ‘Não verás país nenhum’
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