Folha de S. Paulo
A debilidade de Mario Frias só não é total
na hora de sair em defesa da arte golpista
Ao varejar as redes sociais de Mario Frias
e André Porciúncula —o número um e o número dois da Secretaria Especial da
Cultura—, o repórter Bolívar Torres fez uma descoberta extraordinária: eles
leem. Ou pelo menos cultivam um escritor de estimação, o inglês G. K.
Chesterton (1874-1936), que foi apresentado a eles pelo influenciador digital
Olavo de Carvalho, uma das cabeças de Hidra do governo Bolsonaro.
Chesterton é um autor carola. Num estilo
elegante, escreveu ensaios de apologia ao cristianismo e livros de ficção: o
romance cômico “O Homem que Foi Quinta-Feira” e os contos policiais
protagonizados pelo padre Brown, um Sherlock Holmes de batina. O que interessa
a Frias, ex-galã de “Malhação”, e a Porciúncula, ex-capitão da PM, são as
baboseiras, as pérolas de sabedoria do tipo “Há uma beleza mística na
simplicidade da vida comum” ou “Se verdadeiramente vale a pena fazer uma coisa,
vale a pena fazê-la a todo custo”.
Puro conselheiro Acácio. Mas que explicam o que a dupla anda fazendo na cultura. A todo custo, é preciso destruí-la. A frase de um Bolsonaro ainda candidato à Presidência, após o incêndio do Museu Nacional —“Já está feito, já pegou fogo, quer que eu faça o quê?”—, foi só um trailer do filme de horror a que estamos assistindo.
Os dois arrivistas não devem ter sido
consultados sobre o leilão (temporariamente suspenso) do Palácio Capanema,
manobra do ministro Paulo Guedes para encher o caixa da reeleição. Se fossem
ouvidos, cruzariam os braços, como fizeram diante do incêndio na Cinemateca
Nacional. A debilidade de Frias só não é total na hora de sair em defesa da
arte golpista.
Agora é a sede da Funarte, no Centro do
Rio, que está ameaçada pelas chamas e não tem sequer uma gota d’água nas
torneiras. À espera do carnaval de fogo, o prédio de 13 andares armazena um
acervo com dois milhões de itens ligados ao teatro, circo, dança, música e
artes visuais.
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