O Globo
O pastor e empresário José Wellington
Bezerra da Costa é autor de um best-seller de empreendedorismo evangélico:
“Como ter um ministério bem sucedido”. Na segunda-feira, ele atualizou seu
manual para a Era Bolsonaro. Ensinou como usar dinheiro público para eleger
políticos ligados à igreja.
Em reunião com deputados e pré-candidatos,
o chefe da Convenção Geral das Assembleias de Deus explicou o que dizer a
prefeitos que buscam verbas federais. “Você quer dinheiro? Quero. Mas chame
então um pastor da Assembleia de Deus”, lecionou.
O pastor deu sua receita para a partilha de
emendas parlamentares. “É o seguinte: a verba só vai para o prefeito por
intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus”, disse. “O eleitorado não
é do prefeito. São irmãos em Cristo que estão nos apoiando para que nossos
candidatos continuem trabalhando”, acrescentou.
A preleção foi registrada em vídeo revelado pelo jornal O Estado de S.Paulo. Procurado, José Wellington confirmou as declarações e disse mais: “O candidato da minha igreja, eu ponho ele no púlpito, eu ponho ele na minha casa, eu ponho ele no meu carro, eu ponho ele onde eu quiser”.
Aos 87 anos, o pastor comanda o maior ramo
das Assembleias de Deus, que somavam 12 milhões de fiéis no Censo de 2010. Hoje
ele ocupa o cargo de presidente de honra da denominação. Seu filho José
Wellington Jr. é o presidente executivo. O patriarca também trata a política
como negócio familiar. É pai de um deputado federal, uma deputada estadual e
uma vereadora em São Paulo. No ano passado, o trio manejou R$ 25 milhões em
emendas.
“Quem trouxe a política para o ministério
da Assembleia de Deus fui eu, porque entendi que existem interesses da igreja,
especialmente legais”, informou José Wellington. A frase escancara o
pragmatismo das denominações religiosas, que camuflam seu projeto de poder com
a retórica em defesa da família e da “agenda conservadora”.
Na quarta-feira, o deputado Sóstenes
Cavalcante assumiu a chefia da bancada evangélica. Ligado ao bolsonarista Silas
Malafaia, ele anunciou uma meta ambiciosa: eleger 30% do próximo Congresso. A
dinheirama das emendas pode ajudar os pastores a operar esse milagre.
As gafes
de Moro
O deputado Kim Kataguiri será investigado
por dizer que a Alemanha errou ao criminalizar o Partido Nazista, que comandou
um regime genocida e promoveu o extermínio de seis milhões de pessoas.
Questionado sobre a fala, Sergio Moro disse que o aliado tem “histórico como
parlamentar” e cometeu uma “gafe verbal”.
O histórico do MBL inclui práticas de
inspiração fascista, como o ataque a exposições de arte e a invasão de escolas
públicas a pretexto de combater a “doutrinação ideológica”. Dizendo-se liberal,
o grupo apoiou a eleição de um presidente de extrema direita. Agora bandeou-se
para a campanha do ex-juiz.
Moro deve saber o que foi o nazismo, mas
contemporizou para aliviar a barra de Kataguiri. “Gafe verbal” é outra coisa. O
presidenciável cometeu uma ao dissertar sobre os problemas do “agreste
cearense”, que não existe nos livros de geografia.
A
autoestima de Guedes
As sucessivas derrotas no governo não
abalaram a autoestima de Paulo Guedes. “Na pandemia, eu era o cara certo, na
hora certa, no lugar certo”, elogiou-se, no Estadão. Num surto de lucidez, o
ministro admitiu que sua biografia foi “aniquilada”, mas informou que não está
preocupado em “sair bem no filme”. Se estivesse...
Um comentário:
Bons tempos que os crentes não viravam políticos.
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